Homossexuais enclausurados no campo de concentração usando o tradicional uniforme listrado. Destaque para a marcação de um triangulo rosa no peito o que indicava um individuo homossexual. |
Terça-feira passada (27) celebrou-se o Dia Internacional da
Memória do Holocausto, onde o mundo lembrou a libertação dos prisioneiros do
campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, em 1945. Auschwitz-Birkenau foi
um lugar de morticínios, torturas e dos piores horrores perpetrados por aqueles
que se consideravam superiores aos seus objetos de ódio, dentre eles, judeus,
homossexuais, ciganos, poloneses, testemunhas de Jeová etc.
Hoje, Auschwitz é um museu dedicado à manutenção da memória
das consequências do pensamento que subalterniza religiões, sexualidades,
etnias e minorias sociais. Uma mancha na história alemã e um símbolo de
vergonha para seu o povo. Os gritos das vítimas das eletrocussões, das câmaras
de gás, dos fuzilamentos e de todas as sortes de torturas físicas e
psicológicas não deixam mais 300 sobreviventes desse período de trevas, que
visitaram o memorial nessa terça, dormirem em paz.
Portão de entrada do atual museu de Auschwitz. Com a inscrição "O trabalho liberta". |
A memória do holocausto não pode e nem deve ser equiparada a
nenhuma das violências desferidas atualmente. O antissemitismo, o racismo e a
intolerância religiosa continuam, porém ganharam o amparo da lei com o passar
do tempo dentro desses 70 anos de lembranças. A única violência que não ganhou
amparo da lei foi a de cunho sexual para com as minorias.
Em 1933 na antiga URSS a homossexualidade era considerada a
ruína dos jovens nos regimes fascistas e em 1934 a homossexualidade masculina era
tratada como crime punível com prisão de 3 a 8 anos. Esses ideais levaram
Hitler a um discurso racial-biológico da homossexualidade promovendo o
extermínio dos sujeitos homo-orientados, até mesmo nas fileiras alemãs, com
base no Artigo 175 introduzido no código penal alemão em 1871 que punia atos
homossexuais.
Homossexuais mortos no campo de concentração de Buchenwald. |
Toda essa famigeração fez com que 24.450 homossexuais fossem
levados ao campo de concentração de Buchenwald na Alemanha. Buchenwald não era
um campo de concentração de extermínio e sim de trabalho escravo, e as mortes
mais comuns que se abatiam sobre os encarcerados eram por desnutrição, doenças
e maus tratos. Experiências médicas eram realizadas compulsoriamente a fim de
criação de novas vacinas. As primeiras tentativas de se encontrar uma “cura
gay” partiram dos médicos nazistas que buscavam alguma deficiência hereditária
que julgavam ser a causa da homossexualidade, além das cirurgias de castração.
Os gays eram tratados como inimigos do Estado, acusados de
romper com a moral masculina da nação, ameaça ao crescimento populacional da
Alemanha, além de serem considerados uma raça a parte. Motivos considerados
suficientes para SS (Tropa de Proteção) para espancarem e obriga-los aos
serviços mais pesados e perigosos.
Após a guerra, o governo constituído de partidos de esquerda
não aplicava nenhuma medida repressiva aos homossexuais, deixando-os livres
para se juntarem e se organizarem, em 1929 o Artigo 175 foi suprimido e entre os
anos 60-70 as leis sobre sodomia foram extintas na Europa Ocidental. Porém o
sofrimento dos homossexuais não acabou no pós-guerra, uma vez que as leis
anti-homossexuais dos nazistas não foram revogadas, como aconteceu com as leis
antissemitas. Alguns homossexuais foram obrigados a completar a pena a que
estavam condenados pelo Governo Militar Aliado do pós-guerra na Alemanha.
Rudolf Brazda o último sobrevivente gay do holocausto. |
Com o apoio da ONU, o governo alemão e seus bancos públicos
foram sentenciados a pagar uma indenização às famílias das vítimas do
holocausto gay perseguidos pelo III Reich que até hoje estão sendo pagas.
Atualmente, já no Brasil, o grande problema não é a
existências de leis para homossexuais e sim a falta delas. O desamparo da lei
deixa um vácuo legal que permite o preconceito sexual sem que este, quando
denunciado, não configure homofobia, análoga ao racismo, e seja julgado como
tal. A falta de direitos garante aos homossexuais uma inferiorizarão, uma subalternização
e uma invisibilidade no limite do extermínio, mais uma vez. Hoje, a guerra não
é mais física e sim ideológica, que, por vezes, revela-se mais dura e nociva.
As armas são as canetas, os papeis, as redes sociais, os movimentos para
promoção do orgulho para lembrar a sociedade heteronormativa que “existimos e
somos sujeitos de direitos” e a vozes do ativismo que não se conformam com a
atual situação.
Memorial aos milhares de homossexuais presos e assassinados pelo regime nazista no antigo campo de concentração de Buchewalt. |
Não podemos deixar que o passado e o destino dos mais de
50.000 homossexuais mortos seja conjurado novamente nos nossos dias e que as
torturas arrastem novamente as margens indivíduos considerados “invertidos”. Que
o holocausto sirva de exemplo maior das consequências extremas do preconceito
do conservadorismo e da falta de respeito ao diverso.