quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

HOLOCAUSTO - OS HOMOSSEXUAIS COMO OFERTA QUEIMADA

Homossexuais enclausurados no campo de concentração
usando o tradicional uniforme listrado. Destaque para a
marcação de um triangulo rosa no peito o que indicava um
individuo homossexual.
Terça-feira passada (27) celebrou-se o Dia Internacional da Memória do Holocausto, onde o mundo lembrou a libertação dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, em 1945. Auschwitz-Birkenau foi um lugar de morticínios, torturas e dos piores horrores perpetrados por aqueles que se consideravam superiores aos seus objetos de ódio, dentre eles, judeus, homossexuais, ciganos, poloneses, testemunhas de Jeová etc.

Hoje, Auschwitz é um museu dedicado à manutenção da memória das consequências do pensamento que subalterniza religiões, sexualidades, etnias e minorias sociais. Uma mancha na história alemã e um símbolo de vergonha para seu o povo. Os gritos das vítimas das eletrocussões, das câmaras de gás, dos fuzilamentos e de todas as sortes de torturas físicas e psicológicas não deixam mais 300 sobreviventes desse período de trevas, que visitaram o memorial nessa terça, dormirem em paz.
Portão de entrada do atual museu de Auschwitz.
Com a inscrição "O trabalho liberta".

A memória do holocausto não pode e nem deve ser equiparada a nenhuma das violências desferidas atualmente. O antissemitismo, o racismo e a intolerância religiosa continuam, porém ganharam o amparo da lei com o passar do tempo dentro desses 70 anos de lembranças. A única violência que não ganhou amparo da lei foi a de cunho sexual para com as minorias.

Em 1933 na antiga URSS a homossexualidade era considerada a ruína dos jovens nos regimes fascistas e em 1934 a homossexualidade masculina era tratada como crime punível com prisão de 3 a 8 anos. Esses ideais levaram Hitler a um discurso racial-biológico da homossexualidade promovendo o extermínio dos sujeitos homo-orientados, até mesmo nas fileiras alemãs, com base no Artigo 175 introduzido no código penal alemão em 1871 que punia atos homossexuais.

Homossexuais mortos no campo de concentração de
Buchenwald.
Toda essa famigeração fez com que 24.450 homossexuais fossem levados ao campo de concentração de Buchenwald na Alemanha. Buchenwald não era um campo de concentração de extermínio e sim de trabalho escravo, e as mortes mais comuns que se abatiam sobre os encarcerados eram por desnutrição, doenças e maus tratos. Experiências médicas eram realizadas compulsoriamente a fim de criação de novas vacinas. As primeiras tentativas de se encontrar uma “cura gay” partiram dos médicos nazistas que buscavam alguma deficiência hereditária que julgavam ser a causa da homossexualidade, além das cirurgias de castração.

Os gays eram tratados como inimigos do Estado, acusados de romper com a moral masculina da nação, ameaça ao crescimento populacional da Alemanha, além de serem considerados uma raça a parte. Motivos considerados suficientes para SS (Tropa de Proteção) para espancarem e obriga-los aos serviços mais pesados e perigosos.

Após a guerra, o governo constituído de partidos de esquerda não aplicava nenhuma medida repressiva aos homossexuais, deixando-os livres para se juntarem e se organizarem, em 1929 o Artigo 175 foi suprimido e entre os anos 60-70 as leis sobre sodomia foram extintas na Europa Ocidental. Porém o sofrimento dos homossexuais não acabou no pós-guerra, uma vez que as leis anti-homossexuais dos nazistas não foram revogadas, como aconteceu com as leis antissemitas. Alguns homossexuais foram obrigados a completar a pena a que estavam condenados pelo Governo Militar Aliado do pós-guerra na Alemanha.
Rudolf Brazda o último sobrevivente gay do
holocausto.

Com o apoio da ONU, o governo alemão e seus bancos públicos foram sentenciados a pagar uma indenização às famílias das vítimas do holocausto gay perseguidos pelo III Reich que até hoje estão sendo pagas.

Atualmente, já no Brasil, o grande problema não é a existências de leis para homossexuais e sim a falta delas. O desamparo da lei deixa um vácuo legal que permite o preconceito sexual sem que este, quando denunciado, não configure homofobia, análoga ao racismo, e seja julgado como tal. A falta de direitos garante aos homossexuais uma inferiorizarão, uma subalternização e uma invisibilidade no limite do extermínio, mais uma vez. Hoje, a guerra não é mais física e sim ideológica, que, por vezes, revela-se mais dura e nociva. As armas são as canetas, os papeis, as redes sociais, os movimentos para promoção do orgulho para lembrar a sociedade heteronormativa que “existimos e somos sujeitos de direitos” e a vozes do ativismo que não se conformam com a atual situação.

Memorial aos milhares de homossexuais presos e
assassinados pelo regime nazista no antigo campo de
concentração de Buchewalt.
Não podemos deixar que o passado e o destino dos mais de 50.000 homossexuais mortos seja conjurado novamente nos nossos dias e que as torturas arrastem novamente as margens indivíduos considerados “invertidos”. Que o holocausto sirva de exemplo maior das consequências extremas do preconceito do conservadorismo e da falta de respeito ao diverso. 









terça-feira, 27 de janeiro de 2015

21 DE JANEIRO - DIA NACIONAL DE COMBATE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Na última quarta-feira (21) celebrou-se o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa. Atualmente a Constituição brasileira prevê a liberdade religiosa com suas diferentes liturgias separando sempre o Estado da Igreja, sendo assim, o Brasil um Estado laico.

Até então o Estado laico não é a garantia da laicidade do Estado, a laicidade permiti instaurar a separação da sociedade civil e das religiões, não exercendo o Estado qualquer poder religioso e as igrejas qualquer poder político. Obviamente que se existem partidos políticos regidos por preceitos religiosos aplicáveis a políticas e autoridades religiosas que arrebanham votos por meio das igrejas, a laicidade é latente.

Umbanda, uma religião de matriz africana.
A intolerância religiosa no Brasil tem raízes étnico-culturais arraigadas no inicio da colonização. Portugal um país católico ao chegar ao Brasil tinham a seguinte ideia sobre os índios – “eles [os índios] são um povo sem fé, sem lei e sem rei”, logo, eram passíveis do extermínio caso não aceitassem a catequese. Mais adiante na história os negros empregados como mão de obra escrava possuíam religiões de matriz africana ou afro-brasileiras como a umbanda. Para os católicos, que tem seus santos personificados nas religiões afro-brasileiras, o “homem de cor” (brasileiro) praticante de umbanda encontrava-se em uma situação marcada pela miséria material e moral. Encontramos então a ramificação socioeconômica da intolerância religiosa.

Já falei e torno a repetir que a mistura do Estado com a religião, seja ela qual for, é condenar os cidadãos a uma falácia anunciada. Porém não quero entrar nesse mérito, pois já discorri sobre em outro artigo. Mas a própria intolerância religiosa possui raízes, por incrível que pareça, religiosas. As diferentes formas que o divino é representado mais especificamente à figura de Jesus é motivo de discórdia e as expressões deste são completamente rechaçadas pela maioria cristã no Brasil.

Não somente minorias religiosas sofrem com o preconceito, mas também as religiões majoritárias. Os católicos são altamente criticados por protestantes de serem hereges e idólatras e tem seus santos quebrados e cuspidos por pastores. Os protestantes também são vitimas do preconceito quando o assunto é dinheiro, pastores são acusados de lavagem cerebral e estelionato ao pregar sobre o dízimo.

Ateísmo - o direito a não crença.
Mas o que mais me chama a atenção é o fato de que nem o direito a não crença é respeitado. Uma pesquisa realizada pela CNT/Sensus em 2007 constatou que os brasileiros preferem um negro, uma mulher ou um homossexual na presidência da republica do que um ateu. Isso por que o imaginário social do ateu é que são sujeitos sem caráter, sem ética e sem moral, como se as pessoas fossem obrigadas a ter uma religião e um Deus para ter essas coisas.

Tolerar não significa apoiar o ecumenismo e nem o sincretismo religioso e sim permitir tacitamente que as liturgias sejam expressas, dentro dos limites legais, sem restrições, radicalismo e extremismo.

Enfim, o mundo possui exemplos bons do que é a tolerância religiosa que deveriam servir de exemplo. Posso citar aqui o Templo de Santa Sofia na Turquia, país majoritariamente muçulmano, onde cultos no templo são divididos semanalmente entre muçulmanos e cristãos. O próprio Taj Mahal, construído em um país hinduísta, porém com arquitetura muçulmana, é dividido pacificamente entre essas religiões.

Sinônimo de tolerância religiosa o Templo de Santa Sofia
em Istanbul reúne pacificamente muçulmanos e cristãos.
Sinônimo de tolerância religiosa o Taj Mahal
em Agra reúne pacificamente hindus e muçulmanos.