No último domingo (18) o brasileiro Marco A. C. Moreira foi
condenado a pena capital na Indonésia, país do sudeste asiático, por tráfico
internacional de drogas. Descoberto, em 2004, ainda no aeroporto com 13kg de
cocaína escondidos em uma asa-delta, foi preso e condenado ao corredor da
morte.
Já escrevi sobre muitas coisas que sou a favor, e isso,
parece que a posição política que ocupo é tão liberal que beira a loucura, mas
não é bem assim. Quero deixar claro que sou contra a pena de morte. Contudo o
respeito ao direito internacional e a autonomia das leis de cada país têm que
serem respeitadas e cumpridas. O que não impede que a aplicação dessas leis
provoquem sansões internacionais e o estremecimento das relações diplomáticas.
Talvez o mais importante dessa história toda seja o fato de que a política de
guerra às drogas é ineficaz.
A Indonésia, com a política atual de tolerância zero com as
drogas, tem 4,5 milhões de usuários de drogas ilícitas, um aumento de 25% de
2012-14. Mais uma prova de que a política dos “certinhos” não da certo. Além
disso, segundo o ranking internacional da corrupção divulgado pela ONG
Transparência Internacional em 2014, onde o número de pontos mais próximo de
zero maior o nível de corrupção, a Indonésia marcou 34 (107º), enquanto o Brasil
marcou 43 (69º).
Marco Archer executado no último domingo. |
A pena de morte existe desde as primeiras civilizações, onde
era praticada de forma desigual, atroz e sem nenhuma proporção com o delito
cometido. Com o desenvolvimento, a sociedade passa a buscar certo grau de
proporcionalidade entre o delito e a pena, surgindo à figura do Estado, o qual
assume a titularidade da punição.
O favorecimento da pena de morte tem raízes socioeconômicas.
Uma pesquisa realizada pela Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC) revela
que os entrevistados com baixo grau de escolaridade mostram-se mais favoráveis
à pena de morte, pois 70% das pessoas pesquisadas na sociedade opinaram a
favor. Passando para o campo dos mais esclarecidos o resultado inverteu-se para
72% desfavoráveis a aplicação da penalidade máxima.
Isso reflete na aplicação da lei. Em um país onde as
investigações e o investimento na policia científica retratam o cenário das
prisões de inocentes e de minorias estigmatizadas, a música cantada por Elza
Soares ilustra - “A carne mais barata do mercado é a carne negra/Que vai de
graça pro presídio/E para debaixo do plástico/Que vai de graça pro subemprego/E
pros hospitais psiquiátricos”.
No sistema jurídico brasileiro o direito à vida é
reconhecido como um direito fundamental, expressamente proclamado e garantido
como cláusula pétrea pela Constituição da República Federativa do Brasil de
1988.
Fuzilamento, uma das técnicas de morte usadas nas execuções capitais hoje. |
A pena de morte embrutece a todos os envolvidos em sua
aplicação e sua execução contra inocentes é irrevogável. Outro aspecto é que
ela é apenas punitiva e nunca consegue restabelecer a situação anterior à do
crime cometido. Também é importante ressaltar que não houve diminuição da
criminalidade nos países que aderiram a pena de morte “nos Estados Unidos, onde
existe esta pena, o índice de criminalidade é um dos mais altos do mundo”.