sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CRÍTICA AO CURTA: “O BOLO”

“O Bolo” é um curta metragem (12min.) dirigido por Robert Guimarães, lançado em 2010 o filme conta com elenco de Eriberto Leão, Felipe Abib, Catarina Abdala, Fabiula Nascimento, Flavio Bauraqui e Kiko Mascarenhas. Seguindo o gênero comédia o curta narra à história da empregada Dirce (Fabiula Nascimento) uma empregada doméstica religiosa que trabalha para Cadu (Eriberto Leão).  Ao limpar a casa onde aconteceu uma festa na noite anterior, a jovem diarista se depara com as sensações provocadas pelo doce “mágico”, o bolo feito com um toque de marijuana, que despertam a sensualidade da empregada.
Da esquerda para a direita: Eriberto Leão,
Fabiula Nascimento e Robert Guimarães.

Eu ri demais, é muito engraçado, mas o filme apesar de ser uma comédia na verdade funciona muito bem como critica social no tocante a defesa das liberdades pessoais e do uso recreativo da maconha, e aqui quero abrir um parêntese, não acho que o uso recreativo da maconha seja uma coisa boa, tenho certeza. O filme foi construído sobre essa temática, contudo como nenhum bolo contém apenas um ingrediente, Robert Guimarães acrescenta temas como a homossexualidade e a religiosidade.

“As pessoas podem viver suas
liberdades individuais dentro de um conjunto”
Robert Guimarães

É interessante notar que o filme não levanta bandeiras impositivas como vemos hoje nessa guerra por direitos, todas as questões tratadas são de certa forma orgânicas e se desenrolam de forma natural e até irônica.

Uma coisa muito interessante que vi através do filme foi quanto ao uso culinário da Cannabis sativa, até então conhecia apenas os famosos Coffeeshops, estabelecimento onde a venda de maconha para consumo pessoal é tolerada pelas autoridades locais. Além da venda destes produtos, a maioria dos Coffeeshops também vendem comidas e bebidas. Existem também agora os Cannabis Foods, que são alimentos feitos com cannabis em ervas ou resina forma como ingrediente. Eles são consumidos como um meio alternativo de entrega para experimentar os efeitos de canabinóides sem fumar ou vaporizar a cannabis.

A articulação dos temas da diversidade e da tolerância religiosa é bem vista também, isso podemos ver através do mix de religiões de seus personagens desde evangélicos, umbandistas e hinduístas que convivem no filme, de forma pacífica com o diferente. A principal mensagem do filme, de certa forma subliminar, seja essa questão da mistura de ingredientes diferentes para formar o bolo que todos comem e se deliciam. A diversidade traz essa mensagem.
Kiko Mascarenhas, Eriberto Leão e Felipe Abib.

Pra terminarmos, apesar do diretor propor essa temática homossexual acredito que não se tenha aprofundado tanto nessa questão no que se refere às cenas tradicionais que vemos, por exemplo, nas novelas da Globo e nos outros filmes. Contudo, o cinema tem esse papel de representar com mais profundidade, fidelidade, riqueza e menos estereótipos essa questão. 

O curta “O Bolo” ganhou prêmios como Melhor Filme no Festival Mix Brasil 2010 – SP e no Inffinito Brazilian Film Festival na Argentina.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

ENTREVISTA: AMBIGUIDADE NOS ESTILOS MUSICAIS RELIGIOSOS.

Assisti a um vídeo nessa semana com uma música evangélica tocada em ritmo de funk, o que é singular tratando-se do caráter religioso da mesma.

E é incrível como há falta de material para a produção de um artigo aceitável no que se refere à temática do “funk evangélico”. Contudo basta uma pesquisa rápida na internet para descobrir que existe um vasto repertório desse estilo musical. Pensando nisso o blog “EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO” faz uma entrevista com seu editor Matheus Vilela. Transcrição abaixo.

ENTREVISTA: AMBIGUIDADE NOS ESTILOS MUSICAIS RELIGIOSOS.

Blog: Bom dia Matheus, qual sua opinião sobre o funk?

Matheus: Bom dia, o funk é um estilo musical assim como todos os outros, porém devido a transformações passadas no processo de exportação do gênero tornou-se banalizado e sinônimo de luxúria, ostentação, drogas e criminalidade. Eu realmente não tenho nada contra ao estilo nem aos adeptos do mesmo até gosto de alguns como, por exemplo, o funk “Eu só quero é ser feliz” do Rap Brasil que funciona como crítica social, por falar nisso, o funk é a voz do gueto, dos morros e da população que é oprimida nas favelas.

Blog: Qual é a problemática do funk hoje?

Matheus: Confesso que até hoje não sei [risos], mas posso apontar alguns, como por exemplo, o funk não é reconhecido como cultura pelas pessoas que se acham culturalizadas por ouvirem outros estilos musicais. Isso abre precedente para o preconceito cultural bem como a internalização do funk como subcultura adepta por cidadão a margem da sociedade, mas gostaria de ressaltar que o famoso funk ostentação, mais tocado em São Paulo, é muito aceito nos meios da classe média. Não sei dizer também se um dos problemas seja o ritmo ou a batida que instiga a malandragem e a sacanagem, talvez a letra do “funk proibidão” que incita a sensualidade de forma pejorativa. Até aqui tudo isso vemos nos filmes, novelas e músicas internacionais que as pessoas ouvem e não entendem nada, como por exemplo, a música “Bad Romance” que fala sobre prostituição e a música “Americano” que fala de casamento gay, ambas da cantora pop Lady Gaga, poderia citar também a cantora Amy Winehouse com as músicas “Back to Black” “You Know I'm no Good” e “Rehab”  que fazem referencia ao uso de drogas e álcool. Outro problema muito citado é o volume que essas músicas são tocadas em ambientes públicos, veja bem, o funk sim pode ser tocado em ambientes públicos, contudo a limites Hz e horário para se tocar.

Blog: O que precisa ser feito para alcançarmos um dia à convivência pacifica entre funk e sociedade?

Matheus: Primeiro, os funkeiros fazem parte da sociedade, então a luta seria para o reconhecimento do funk como cultura e estilo musical, é o começo, mas não é tudo, essa é a parte que cabe aos cidadãos não funkeiros, a mais difícil de mudar, pois os mesmos vão ter que despir a capa hipócrita que os cobre. Segundo, os cidadãos funkeiros têm de aprender a respeitar os limites legais para tocar músicas em público. Tudo isso é o principio da convivência pacifica respeito, reconhecimento e cidadania.

Blog: Entrando mais especificamente no tema da nossa entrevista, o que é a ambiguidade dos estilos musicais no ambiente religioso?

Matheus: Vamos lá, hoje no ambiente religioso, vou falar assim, pois não quero fazer referências à denominação nenhuma, há alguns estilos musicais considerados mundanos que são aceitos e outros não. Exemplos, o rock e o pagode ou samba. O rock teve em um momento de sua história mais especificamente na década de 80, uma fórmula tríade de se escrever as musicas geralmente focadas em sexo, bebidas e drogas, esse estilo é tocado hoje nas igrejas. O pagode ou samba que por muito tempo teve como objeto concreto a frequência de bares e cerveja, ganhou até um slogan “sou brahmeiro”, sinônimo do arquétipo do cara comum, traz consigo os valores da vida devassa e da boêmia, estilo que também é tocado nas igrejas. Contudo o funk não é muito aceito justamente por carregar as marcas que citei acima, mas se formos analisar os outros estilos também carregam marcas, mais uma vez a hipocrisia. Isso é a ambiguidade.

Blog: Você sabe dizer quais são os argumentos dos religiosos para a não aceitação do estilo musical nas igrejas?

Matheus: Não sei dizer exatamente, pois estou fora do meio ultimamente, mas acredito que seja por tudo isso que já falei a respeito do funk. Há certas incertezas também nos argumentos deles. Quando se toca um funk com uma letra infantil ou sem baixaria eles gostam e curtem até dançam se possível. Inserir isso na igreja, não, pois o funk já tem rótulo, mas em ambientes externos sim. Aí gera dubiedade, pois se o problema é a letra se resolve colocando outra. Penso agora que o problema seja o ritmo, não sei. Se formos pensar em rótulos a vida toda, nunca vamos fazer nada.

Blog: Pra encerrarmos, você concorda com a aceitação do estilo musical nas igrejas?

Matheus: Sim, com restrições [riso]. Não vejo problemas na aceitação do estilo por igrejas locais que não sigam a um vaticano, contudo acredito que isso não deva se tornar o único estilo, pois as igrejas e a religião já tem seu estilo musical majoritário, a música gospel, caracterizada por uma harmonia simples, pelo gênero folclórico e pela intensa influência do blues, um estilo mais leve voltado à adoração, principal atividade nos cultos religiosos. O funk por ter um estilo mais dançante não atenderia todo o público que frequenta uma igreja. Acredito também que caiba uma revisão dos estilos aceitos (rock, pagode ou samba, rap, hip hop, black  etc...) para por fim a essa ambiguidade.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

CRÍTICA AO FILME: "UMA PASSAGEM PARA MÁRIO"

Cartaz do filme.
Uma passagem para Mário é um longa metragem (77min.), dirigido por Eric Laurence e estreou no cinema recentemente no dia 6 desse mês. O filme faz um mix dos gêneros aventura, biografia, documentário e drama. Na verdade é uma reflexão sobre o que é a vida, o sentido das amizades e a morte.

Mário, o personagem principal da história, é um jovem que está lutando contra um câncer no fígado, a partir daí ele começa a fazer filmagens caseiras do seu cotidiano e se propõem a fazer uma viagem juntamente com seu amigo Eric Laurence o diretor do longa, de Recife (PE), atravessando a Bolívia, até chegar ao deserto do Atacama no Chile.

o desafio que a gente tem muito grande hoje
é desmistificar o tratamento

Dr. Iran

Roteiro da viagem.
A viagem estava marcada para acontecer no dia 19 de outubro passado, porém Mário morre antes de começa-lá então Eric decide realizar a viagem sozinho, filmando e registrando todas as imagens ele consegue ao final de tudo concluir esse filme juntando algumas das filmagens de Mário ao seu roteiro.

O filme revela o quanto somos pequenos nessa vida, estamos todos aqui numa passagem a pergunta que temos que nos fazer é uma passagem para onde? Apesar dos 75 anos de estimativa de vida que temos é um tempo muito curto, o que faremos nesse tempo? A viagem de Mário é um rito de passagem, uma viagem de autodescobrimento que todos nós um dia devíamos fazer para descobrir quem somos qual nosso objetivo nessa vida e para onde vamos.

Hoje eu tenho que resolver as coisas da passagem
Mário

Todos nós lutamos contra a natureza, contra o tempo, porém sempre perdemos essa luta porque estamos com uma doença terminal, a morte. Todos os nossos esforços para uma vida saudável de qualidade não será capaz de reduzir nosso fim, a única coisa que varia é o tempo em que vamos embora.

A nossa vida não da para ter um roteiro, não da para fazermos planos a longo prazo, afinal não sabemos se vamos estar vivos daqui a um minuto.

Mergulho de Mário.
A questão do mergulho no inicio do filme é muito interessante, pois a água está ligada ao nascimento e a renovação, nascemos da água dependemos dela e não há vida sem ela. Talvez a cena mais antagônica do filme seja na conclusão dele, quando Eric terminai sua viagem e entrega as memórias de seu amigo no deserto do Atacama, Mário está nadando no deserto.

A motivação maior para a feitura do filme foi à amizade, um amor compaixão que está mais associado ao suporte social e ao apoio mútuo em momentos difíceis, sendo também considerada uma forma de amor mais altruísta, sentimento hoje que muitas vezes é confundido com amor companheiro associado à amizade ou gostar intenso, constituindo a forma através da qual as relações românticas se iniciam. Vivemos em um mundo que está contra os sentimentos, o sistema pede que não sinta. Não podemos ter amizades verdadeiras.

Falando agora dos aspectos da morte, a morte não é o final é o começo. Todos estão presos a ciclos e o ciclo da vida se compõe da seguinte maneira, nascemos, crescemos, reproduzimos e morremos, essa é a realidade de quem está vivo. Quando morremos nos integramos à realidade da Terra, antes fazíamos parte do todo agora fazemos parte da Terra e tudo isso acontece quando deixamos de existir, terminamos nossa jornada assim.

Pouca importância teria em ser eterno teríamos muito que contar, porém nossa morte não seria sentida. Quando na verdade devíamos viver a cada dia tentando conquistar nossos objetivos, vivemos mais que todos, porque a cada dia nos esforçamos por viver. Outras pessoas deixam o tempo passar para saber se vivem.

As pessoas que vivem bem, que sonham que riem, que se divertem, são as pessoas que estão vivendo. Por mais que seu trabalho seja o melhor do mundo se não está com seus amigos, não se diverte você pode ganhar muitas coisas, mas onde isso leva?

Cemitério de trens.
Os bens materiais que conquistamos nessa vida e o dinheiro guardado do nosso trabalho não vão conosco para a outra vida, então porque se matar de trabalhar, economizar e não ter tempo para o que realmente nos faz feliz?

Muitas pessoas que morrem são nossos companheiros durante o resto de nossas vidas porque eles nos elegem como opção, porque são nossos companheiros espirituais e muitas vezes nós os sentimos. Muitas vezes nossas necessidades, são as necessidades de pessoas que já partiram, temos que saciá-las.

Ele tem que viajar ele tem que partir

Último registro de Mário.
A "Melhora da Morte" é quando um paciente, que está prestes a morrer, geralmente desenganado, apresenta, de uma hora para outra, uma melhora súbita em seu estado geral, justo quando ninguém mais acredita ou espera sua recuperação. Essa melhora mexe novamente com as esperanças da família. Porém, no dia seguinte àquela melhora, o paciente morre. Mário estava assim em sua última gravação, subindo as escadas ele da adeus a esse mundo e isso revela a força dessa jornada espiritual.
Eu vou sendo como posso ser
Mário

Salar do Uyuni.

Mário se foi, porém suas memórias e seu espírito permaneceram com seu amigo, que caminhava ao seu lado quando o mesmo chega ao Salar do Uyuni a 3.656 metros acima do nível do mar onde céu e terra se encontram. Esse encontro era o prelúdio do maior desafio de toda a jornada, o deserto, e antes de começa-la Eric constrói um monumento de pedra em memória de seu amigo a beira de uma rocha.

O deserto está relacionado com a busca da realidade. Esta extensão imensa e estéril, em que as paisagens aparentemente se repetem, é o local ideal para um encontro com o interior de cada ser humano. O deserto simboliza uma espécie de busca interior ou exterior, simultaneamente um local de tentação e um meio ideal para a obtenção da salvação divina da alma.

Uma cena antológica na entrada do deserto é a semelhança do som e da estética da tempestade de areia e das bolhas d’água durante o mergulho.

A jornada finalmente chega ao fim quando Laurence entrega sua viagem a Mário deixando que ele nade entre as pedras do deserto. É o fim, Laurence consegue realizar o desejo de seu amigo que viu a viagem toda, pois estava em seu coração.


Deserto do Atacama.