quarta-feira, 19 de novembro de 2014

ENTREVISTA: AMBIGUIDADE NOS ESTILOS MUSICAIS RELIGIOSOS.

Assisti a um vídeo nessa semana com uma música evangélica tocada em ritmo de funk, o que é singular tratando-se do caráter religioso da mesma.

E é incrível como há falta de material para a produção de um artigo aceitável no que se refere à temática do “funk evangélico”. Contudo basta uma pesquisa rápida na internet para descobrir que existe um vasto repertório desse estilo musical. Pensando nisso o blog “EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO” faz uma entrevista com seu editor Matheus Vilela. Transcrição abaixo.

ENTREVISTA: AMBIGUIDADE NOS ESTILOS MUSICAIS RELIGIOSOS.

Blog: Bom dia Matheus, qual sua opinião sobre o funk?

Matheus: Bom dia, o funk é um estilo musical assim como todos os outros, porém devido a transformações passadas no processo de exportação do gênero tornou-se banalizado e sinônimo de luxúria, ostentação, drogas e criminalidade. Eu realmente não tenho nada contra ao estilo nem aos adeptos do mesmo até gosto de alguns como, por exemplo, o funk “Eu só quero é ser feliz” do Rap Brasil que funciona como crítica social, por falar nisso, o funk é a voz do gueto, dos morros e da população que é oprimida nas favelas.

Blog: Qual é a problemática do funk hoje?

Matheus: Confesso que até hoje não sei [risos], mas posso apontar alguns, como por exemplo, o funk não é reconhecido como cultura pelas pessoas que se acham culturalizadas por ouvirem outros estilos musicais. Isso abre precedente para o preconceito cultural bem como a internalização do funk como subcultura adepta por cidadão a margem da sociedade, mas gostaria de ressaltar que o famoso funk ostentação, mais tocado em São Paulo, é muito aceito nos meios da classe média. Não sei dizer também se um dos problemas seja o ritmo ou a batida que instiga a malandragem e a sacanagem, talvez a letra do “funk proibidão” que incita a sensualidade de forma pejorativa. Até aqui tudo isso vemos nos filmes, novelas e músicas internacionais que as pessoas ouvem e não entendem nada, como por exemplo, a música “Bad Romance” que fala sobre prostituição e a música “Americano” que fala de casamento gay, ambas da cantora pop Lady Gaga, poderia citar também a cantora Amy Winehouse com as músicas “Back to Black” “You Know I'm no Good” e “Rehab”  que fazem referencia ao uso de drogas e álcool. Outro problema muito citado é o volume que essas músicas são tocadas em ambientes públicos, veja bem, o funk sim pode ser tocado em ambientes públicos, contudo a limites Hz e horário para se tocar.

Blog: O que precisa ser feito para alcançarmos um dia à convivência pacifica entre funk e sociedade?

Matheus: Primeiro, os funkeiros fazem parte da sociedade, então a luta seria para o reconhecimento do funk como cultura e estilo musical, é o começo, mas não é tudo, essa é a parte que cabe aos cidadãos não funkeiros, a mais difícil de mudar, pois os mesmos vão ter que despir a capa hipócrita que os cobre. Segundo, os cidadãos funkeiros têm de aprender a respeitar os limites legais para tocar músicas em público. Tudo isso é o principio da convivência pacifica respeito, reconhecimento e cidadania.

Blog: Entrando mais especificamente no tema da nossa entrevista, o que é a ambiguidade dos estilos musicais no ambiente religioso?

Matheus: Vamos lá, hoje no ambiente religioso, vou falar assim, pois não quero fazer referências à denominação nenhuma, há alguns estilos musicais considerados mundanos que são aceitos e outros não. Exemplos, o rock e o pagode ou samba. O rock teve em um momento de sua história mais especificamente na década de 80, uma fórmula tríade de se escrever as musicas geralmente focadas em sexo, bebidas e drogas, esse estilo é tocado hoje nas igrejas. O pagode ou samba que por muito tempo teve como objeto concreto a frequência de bares e cerveja, ganhou até um slogan “sou brahmeiro”, sinônimo do arquétipo do cara comum, traz consigo os valores da vida devassa e da boêmia, estilo que também é tocado nas igrejas. Contudo o funk não é muito aceito justamente por carregar as marcas que citei acima, mas se formos analisar os outros estilos também carregam marcas, mais uma vez a hipocrisia. Isso é a ambiguidade.

Blog: Você sabe dizer quais são os argumentos dos religiosos para a não aceitação do estilo musical nas igrejas?

Matheus: Não sei dizer exatamente, pois estou fora do meio ultimamente, mas acredito que seja por tudo isso que já falei a respeito do funk. Há certas incertezas também nos argumentos deles. Quando se toca um funk com uma letra infantil ou sem baixaria eles gostam e curtem até dançam se possível. Inserir isso na igreja, não, pois o funk já tem rótulo, mas em ambientes externos sim. Aí gera dubiedade, pois se o problema é a letra se resolve colocando outra. Penso agora que o problema seja o ritmo, não sei. Se formos pensar em rótulos a vida toda, nunca vamos fazer nada.

Blog: Pra encerrarmos, você concorda com a aceitação do estilo musical nas igrejas?

Matheus: Sim, com restrições [riso]. Não vejo problemas na aceitação do estilo por igrejas locais que não sigam a um vaticano, contudo acredito que isso não deva se tornar o único estilo, pois as igrejas e a religião já tem seu estilo musical majoritário, a música gospel, caracterizada por uma harmonia simples, pelo gênero folclórico e pela intensa influência do blues, um estilo mais leve voltado à adoração, principal atividade nos cultos religiosos. O funk por ter um estilo mais dançante não atenderia todo o público que frequenta uma igreja. Acredito também que caiba uma revisão dos estilos aceitos (rock, pagode ou samba, rap, hip hop, black  etc...) para por fim a essa ambiguidade.

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