Assisti a um vídeo nessa semana com uma música evangélica
tocada em ritmo de funk, o que é singular tratando-se do caráter religioso
da mesma.
E é incrível como há falta de material para a produção de um
artigo aceitável no que se refere à temática do “funk evangélico”. Contudo basta uma pesquisa rápida na internet
para descobrir que existe um vasto repertório desse estilo musical. Pensando
nisso o blog “EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO” faz uma entrevista com seu editor Matheus
Vilela. Transcrição abaixo.
ENTREVISTA:
AMBIGUIDADE NOS ESTILOS MUSICAIS RELIGIOSOS.
Blog: Bom dia
Matheus, qual sua opinião sobre o funk?
Matheus: Bom dia,
o funk é um estilo musical assim como todos os outros, porém devido a
transformações passadas no processo de exportação do gênero tornou-se
banalizado e sinônimo de luxúria, ostentação, drogas e criminalidade. Eu realmente
não tenho nada contra ao estilo nem aos adeptos do mesmo até gosto de alguns
como, por exemplo, o funk “Eu só quero é ser feliz” do Rap Brasil que funciona
como crítica social, por falar nisso, o funk é a voz do gueto, dos morros e da
população que é oprimida nas favelas.
Blog: Qual é a
problemática do funk hoje?
Matheus: Confesso
que até hoje não sei [risos], mas posso apontar alguns, como por exemplo, o
funk não é reconhecido como cultura pelas pessoas que se acham culturalizadas
por ouvirem outros estilos musicais. Isso abre precedente para o preconceito
cultural bem como a internalização do funk como subcultura adepta por cidadão a
margem da sociedade, mas gostaria de ressaltar que o famoso funk ostentação,
mais tocado em São Paulo, é muito aceito nos meios da classe média. Não sei
dizer também se um dos problemas seja o ritmo ou a batida que instiga a
malandragem e a sacanagem, talvez a letra do “funk proibidão” que incita a
sensualidade de forma pejorativa. Até aqui tudo isso vemos nos filmes, novelas
e músicas internacionais que as pessoas ouvem e não entendem nada, como por
exemplo, a música “Bad Romance” que fala sobre prostituição e a música “Americano”
que fala de casamento gay, ambas da cantora pop Lady Gaga, poderia citar também
a cantora Amy Winehouse com as músicas “Back to Black” “You Know I'm no Good” e
“Rehab” que fazem referencia ao uso de
drogas e álcool. Outro problema muito citado é o volume que essas músicas são
tocadas em ambientes públicos, veja bem, o funk sim pode ser tocado em
ambientes públicos, contudo a limites Hz e horário para se tocar.
Blog: O que
precisa ser feito para alcançarmos um dia à convivência pacifica entre funk e sociedade?
Matheus: Primeiro,
os funkeiros fazem parte da sociedade, então a luta seria para o reconhecimento
do funk como cultura e estilo musical, é o começo, mas não é tudo, essa é a
parte que cabe aos cidadãos não funkeiros, a mais difícil de mudar, pois os
mesmos vão ter que despir a capa hipócrita que os cobre. Segundo, os cidadãos
funkeiros têm de aprender a respeitar os limites legais para tocar músicas em
público. Tudo isso é o principio da convivência pacifica respeito,
reconhecimento e cidadania.
Blog: Entrando
mais especificamente no tema da nossa entrevista, o que é a ambiguidade dos
estilos musicais no ambiente religioso?
Matheus: Vamos
lá, hoje no ambiente religioso, vou falar assim, pois não quero fazer
referências à denominação nenhuma, há alguns estilos musicais considerados
mundanos que são aceitos e outros não. Exemplos, o rock e o pagode ou samba. O
rock teve em um momento de sua história mais especificamente na década de 80,
uma fórmula tríade de se escrever as musicas geralmente focadas em sexo,
bebidas e drogas, esse estilo é tocado hoje nas igrejas. O pagode ou samba que
por muito tempo teve como objeto concreto a frequência de bares e cerveja, ganhou
até um slogan “sou brahmeiro”, sinônimo do arquétipo do cara comum, traz
consigo os valores da vida devassa e da boêmia, estilo que também é tocado nas
igrejas. Contudo o funk não é muito aceito justamente por carregar as marcas
que citei acima, mas se formos analisar os outros estilos também carregam
marcas, mais uma vez a hipocrisia. Isso é a ambiguidade.
Blog: Você sabe
dizer quais são os argumentos dos religiosos para a não aceitação do estilo
musical nas igrejas?
Matheus: Não sei
dizer exatamente, pois estou fora do meio ultimamente, mas acredito que seja
por tudo isso que já falei a respeito do funk. Há certas incertezas também nos
argumentos deles. Quando se toca um funk com uma letra infantil ou sem baixaria
eles gostam e curtem até dançam se possível. Inserir isso na igreja, não, pois
o funk já tem rótulo, mas em ambientes externos sim. Aí gera dubiedade, pois se
o problema é a letra se resolve colocando outra. Penso agora que o problema
seja o ritmo, não sei. Se formos pensar em rótulos a vida toda, nunca vamos
fazer nada.
Blog: Pra
encerrarmos, você concorda com a aceitação do estilo musical nas igrejas?
Matheus: Sim, com
restrições [riso]. Não vejo problemas na aceitação do estilo por igrejas locais
que não sigam a um vaticano, contudo acredito que isso não deva se tornar o
único estilo, pois as igrejas e a religião já tem seu estilo musical
majoritário, a música gospel, caracterizada por uma harmonia simples, pelo
gênero folclórico e pela intensa influência do blues, um estilo mais leve
voltado à adoração, principal atividade nos cultos religiosos. O funk por ter
um estilo mais dançante não atenderia todo o público que frequenta uma igreja.
Acredito também que caiba uma revisão dos estilos aceitos (rock, pagode ou
samba, rap, hip hop, black etc...) para
por fim a essa ambiguidade.
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