Silas Malafaia e Raul Gil |
No último sábado estava assistindo ao “Programa Raul Gil” no
SBT mais especificamente o quadro “Tirando o Chapéu” que contou com a presença
do líder religioso Silas Malafaia da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Expressando sua opinião sobre diversas personalidades com seu modo acalorado de
discurso, chegamos ao chapéu mais polêmico, o da ABGLT (Associação Brasileira
de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), única instituição a
ser apresentada dentre os dez chapéus, a qual ele não tirou.
Na sua explicação ele diz que faz uma separação entre os
homossexuais e os ativistas gays e que não discute as questões das praticas
sexuais, classificado por ele como pecado, e sim de uma ideologia de gênero
que, segundo ele, quer se implantar em todo o Brasil.
Segundo ele os ativistas gays querem de certa forma ensinar
o “homossexualismo” nas escolas, que causaria uma mudança de paradigmas na
sociedade. Ele cita também o PL 5002-2013 do deputado federal do Rio de Janeiro
pelo PSOL Jean Wyllys e da deputada federal do Distrito Federal pelo PT Érika
Kokay, que dispõe sobre o direito à identidade de gênero.
Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais. |
Realmente dentro da política LGBT e da cultura GLS há certa
divisão entre ativistas e não ativistas, o que causa ranhuras e brechas dentro
da categoria desfavorecendo a aceitação das políticas apregoadas pelo ativismo.
Políticos cuidam de políticas, ativistas cuidam de causas e
pastores cuidam de ovelhas. Silas Malafaia atendendo ao último requisito
deveria se ater ao lado religioso do assunto, que é justamente a pratica, coisa
que ele não discute. Para discutirmos a ideologia de gênero partimos para o
campo do ativismo, estando nessa esfera ele também se torna um ativista, um
ativista religioso.
Ideologia de gênero é uma coisa difícil de explicar, porém
vou tentar. Primeiramente precisamos nos livrar das ideias da
heteronormatividade, heterossexualidade é um dos perfis sexuais dentro da
sexualidade humana, existem outros dois a homossexualidade e a bissexualidade.
A maioria das pessoas não entende isso como sendo normal,
pois há uma cristonormatividade, que é o pendor dos fundamentalistas, que são
ativistas, a colocar todo tema social ou qualquer vivencia nas formas do
cristianismo.
Transgeneridade |
Orientação sexual e a identidade gênero dos indivíduos são o
resultado de um constructo social e que, portanto, não existem papéis sexuais
essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes formas
socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais.
Ideologia de Gênero. |
Chegamos então ao ponto crucial, a formação da ideologia de
gênero, que diz que a criança nasce sem um sexo definido. Quando a criança
nasce não deve ser considerada do sexo masculino ou sexo feminino; depois ela
fará esta escolha. Essa ideologia já está em vigor em países como a Suécia e a
Holanda.
Se eu fosse um ativista extremista concordaria com o
parágrafo acima, porém a ideia de ideologia de gênero é um tanto agressiva no
que se refere a sexo biológico, creio sim que geneticamente nascemos com um
sexo macho ou fêmea, com o passar do tempo adquirimos sim uma identidade de
gênero que é como nos entendemos e nos portamos perante a sociedade no trato
dos nossos papeis sexuais e por fim chegamos à orientação sexual que é para
onde direcionamos nossa libido.
Quando a ensinar o “homossexualismo” na escola, fazendo
referencia ao “Kit Gay”, primeiramente já está errado só pelo termo empregado.
Ele como psicólogo deveria saber que em 1999, o Conselho Federal de Psicologia
formulou a Resolução 001/99, considerando que “a homossexualidade não constitui
doença, nem distúrbio e nem perversão”, que “há, na sociedade, uma inquietação
em torno das práticas sexuais desviantes da norma estabelecida
sócio-culturalmente” (qual seja, a heterossexualidade), e, especialmente, que
“a Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento
sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e
discriminações”. Assim, tanto no Brasil como em outros países, cientificamente,
homossexualidade não é considerada doença.
Por isso, o sufixo “ismo” (terminologia referente à
“doença”) foi substituído por “dade” (que remete a “modo de ser”).
"Kit Gay" |
O único erro ou quase erro do “Kit Gay” (conste que votei
contra) foi ao tentar distribuir esse material contendo apenas uma face da
sexualidade humana, quando ali deveria conter os três perfis. Contudo, que isso
sirva de alerta, quanto antes começarmos aulas de educação sexual nas escolas
melhor, com isso conseguiríamos um amplo espaço para discussão com as gerações
futuras de temas que hoje são um tabu, como por exemplo, o aborto e a
homossexualidade.
Paradigma não é uma coisa boa, nunca foi e nunca será por
isso precisamos quebrá-los. O grande desafio é quebrá-los de uma forma justa e
isso só vamos conseguir com uma educação que nos ensine a pensar e não a obedecer.
Para encerrar o PL 5002-2013 está corretíssimo ao liberar os
indivíduos que queiram fazer a Cirurgia de Redesignação Sexual (CRS) de
avaliações psicológicas, visto que isso não é nenhuma doença ou transtorno
psicológico. Todos são livres para fazer uso e transformações em seus corpos
que melhor lhe aprouver sem que tenha uma pessoa que diga “isso é errado, você
está doente”.
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