Shabnam Mausi um hijra como os eunucos são chamados na Índia. |
Por volta de 1050 a.C. na China surgem, quando a castração
foi incluída nos códigos legais chineses como forma de punição, os eunucos.
Eunuco é um homem cujo pênis e os testículos (ou apenas os testículos) foram
removidos, ou são congenitamente não funcionais e ainda por castração
voluntária. Em sua origem grega, o termo eunoukhos
pode ser traduzido como "guardião da cama". No Oriente Médio e na
China, eunucos foram usados como guardas ou serviçais dos haréns onde ficavam
as esposas e concubinas reais. Na Grécia antiga, a prática era usada como pena
para impedir a reincidência em casos de estupro ou adultério, embora os gregos
também costumassem castrar serviçais domésticos para torná-los mais dóceis e
inofensivos.
A bíblia também relata vários casos de eunucos
principalmente no livro de Ester, pois o cenário principal se passa nos haréns
dos palácios pérsicos. Talvez o caso mais famoso seja o eunuco etíope, o qual seria
um importante funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que é batizado por
Filipe, o Evangelista (Atos 8:26-40). O próprio Jesus declara e inclui o dom do
celibato como uma forma de ser eunuco.
Ilustração de Felipe, o Evangelista explicando uma passagem da bíblia ao eunuco etíope. |
"Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos
homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por
causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o." (Matheus.19:12)
Por vezes os eunucos podem apresentar uma orientação sexual
assexuada, que é caracterizada pela indiferença à prática sexual, ou
homossexuada. Eunuco também pode ser sinônimo de transexualidade, porém não é
um fator determinante da orientação sexual nem da identidade de gênero. Mas uma
coisa é certa: a principal finalidade da castração era tornar os eunucos
sexualmente impotentes.
Historicamente a condição de ser eunuco apresenta raízes
socioeconômicas. A castração voluntária era uma forma de escapar da miséria e
os filhos de camponeses davam-se ao sacrifício em nome da família. Muitos deles
enriqueciam e ocupavam cargos influentes ou simplesmente influenciavam seus
senhores em uma espécie de oráculo pajem.
Eunucos os senhores dos haréns. |
No contexto judaico-cristão a famigeração dos eunucos, que é
uma importação dos costumes sacerdotais pagãos de outras culturas
contemporâneos ao povo judeu, parte do principio da incapacidade de reprodução.
A lei excluía esses indivíduos da sociedade, mesmo com a adaptação proposta no
livro de Isaías:
“Pois assim diz o Senhor: "Aos eunucos que guardarem os meus
sábados, que escolherem o que me agrada e se apegarem à minha aliança, a eles
darei, dentro de meu templo e dos seus muros, um memorial e um nome melhor do
que filhos e filhas, um nome eterno, que não será eliminado.” (Isaías
56.4-5)
Nitidamente a graça está por trás desta “adaptação” à
realidade. A Lei aponta para um mundo ideal, onde não haja homens incapazes de
reproduzir. Porém, a graça lida com as demandas da realidade. A Lei acentua a
distância entre o real e o ideal. A graça reverte este fluxo. Em vez de
exclusão, inclusão. Em vez de distanciamento, aproximação.
O eunuco da vez é todo aquele que desprezamos, do qual
queremos distância. Pelo menos assim, não seremos obrigados a amá-los, já que
esta obrigação só diz respeito ao próximo.
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