terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

BREVE HISTÓRIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO EUNUCO

Shabnam Mausi um hijra
como os eunucos são
chamados na Índia.
Por volta de 1050 a.C. na China surgem, quando a castração foi incluída nos códigos legais chineses como forma de punição, os eunucos. Eunuco é um homem cujo pênis e os testículos (ou apenas os testículos) foram removidos, ou são congenitamente não funcionais e ainda por castração voluntária. Em sua origem grega, o termo eunoukhos pode ser traduzido como "guardião da cama". No Oriente Médio e na China, eunucos foram usados como guardas ou serviçais dos haréns onde ficavam as esposas e concubinas reais. Na Grécia antiga, a prática era usada como pena para impedir a reincidência em casos de estupro ou adultério, embora os gregos também costumassem castrar serviçais domésticos para torná-los mais dóceis e inofensivos.

A bíblia também relata vários casos de eunucos principalmente no livro de Ester, pois o cenário principal se passa nos haréns dos palácios pérsicos. Talvez o caso mais famoso seja o eunuco etíope, o qual seria um importante funcionário de Candace, rainha da Etiópia, que é batizado por Filipe, o Evangelista (Atos 8:26-40). O próprio Jesus declara e inclui o dom do celibato como uma forma de ser eunuco.
Ilustração de Felipe, o Evangelista explicando uma
passagem da bíblia ao eunuco etíope.

"Porque há eunucos que nasceram assim; e há eunucos que pelos homens foram feitos tais; e outros há que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do reino dos céus. Quem pode aceitar isso, aceite-o." (Matheus.19:12)

Por vezes os eunucos podem apresentar uma orientação sexual assexuada, que é caracterizada pela indiferença à prática sexual, ou homossexuada. Eunuco também pode ser sinônimo de transexualidade, porém não é um fator determinante da orientação sexual nem da identidade de gênero. Mas uma coisa é certa: a principal finalidade da castração era tornar os eunucos sexualmente impotentes.

Historicamente a condição de ser eunuco apresenta raízes socioeconômicas. A castração voluntária era uma forma de escapar da miséria e os filhos de camponeses davam-se ao sacrifício em nome da família. Muitos deles enriqueciam e ocupavam cargos influentes ou simplesmente influenciavam seus senhores em uma espécie de oráculo pajem.

Eunucos os senhores dos haréns.
No contexto judaico-cristão a famigeração dos eunucos, que é uma importação dos costumes sacerdotais pagãos de outras culturas contemporâneos ao povo judeu, parte do principio da incapacidade de reprodução. A lei excluía esses indivíduos da sociedade, mesmo com a adaptação proposta no livro de Isaías:

“Pois assim diz o Senhor: "Aos eunucos que guardarem os meus sábados, que escolherem o que me agrada e se apegarem à minha aliança, a eles darei, dentro de meu templo e dos seus muros, um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas, um nome eterno, que não será eliminado.” (Isaías 56.4-5)

Nitidamente a graça está por trás desta “adaptação” à realidade. A Lei aponta para um mundo ideal, onde não haja homens incapazes de reproduzir. Porém, a graça lida com as demandas da realidade. A Lei acentua a distância entre o real e o ideal. A graça reverte este fluxo. Em vez de exclusão, inclusão. Em vez de distanciamento, aproximação.

O eunuco da vez é todo aquele que desprezamos, do qual queremos distância. Pelo menos assim, não seremos obrigados a amá-los, já que esta obrigação só diz respeito ao próximo.

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