Os cristãos na sociedade. |
Fico feliz com os sinais das mudanças no âmbito religioso
que abrem novos horizontes e discursos, mas ao mesmo tempo fico com medo de
como isso será ministrado, de uma forma democrática ou ditatorial. Obviamente
que um culto religioso é diferente de uma aula religiosa. Os cultos são
assistidos por pessoas que de livre espontânea vontade ouvem e acordam
tacitamente com o que é falado pelo discursador, já uma aula implica em
explicar as varias versões da história sempre primando pelo livre pensamento e
direito de expressão. Quando o exercício de lecionar abrange o debate com as
diversas áreas do conhecimento mediante uma mesa discursiva a aula acaba sendo
mais dinâmica, interessante e é claro mais democrática.
Cristianismo e sociedade se fundem na cultura ocidental
desde a época da colonização com a catequese imposta pelos padres jesuítas aos
índios. Dentro da cultura cristã as varias correntes do cristianismo estão
intimamente ligadas as questões sociais, por exemplo, os católicos mantém um
Estado sob seu controle, sua autoridade máxima, o Papa, é ao mesmo tempo líder
religioso e político e já teve mais poder do que reis de outrora; os cristãos
detém partidos políticos e os espíritas com sua dedicação a caridade realizam
um trabalho social importante; dentre outras coisas realizadas socialmente
pelas várias doutrinas cristãs. O pensamento “cidadão do céu” não exime ninguém
dos problemas sociais do cidadão terreno. Agora a respostas se cristãos devem
se preocupar com as questões sociais parece lógica, sim.
A companhia de Jesus fundo o colégio de São Paulo, em Piratininga, em 1554. Na imagem o Padre José de Anchieta. |
A Igreja ocupa um lugar histórico na sociedade de amparo e
apoio a educação, com a fundação de escolas e universidades, nas ciências em
geral pelos próprios jesuítas que eram letrados, estudiosos e verdadeiros
“sacerdotes-cientistas”, também inspirou cuidados médicos, influenciou no
bem-estar social, economia e ainda influencia no começo ou no término de guerras.
Os problemas da dinâmica da relação cristianismo e sociedade estão quando a
religião invade o campo da macro e da média política e executa, legisla e julga
assuntos sociais, herança da relação com os campos da filosofia.
A mistura perigosa de filosofia e religião pode gerar
seitas, que são facções, em geral religiosas, que constitui a crença de grupos
dissidentes. Com surgimento do Iluminismo na França no século XVII que pregava que
o pensamento racional deveria substituir as crenças religiosas e o misticismo,
que bloqueiam a evolução do homem, surgem os Illuminatis, uma seita saída do
cristianismo que se dedicava a impor os ideais do Iluminismo.
Apesar de o Brasil ser um Estado laico, porém sem a
laicidade, os princípios do cristianismo estão presentes nos mais diversos
dispositivos sociais como, por exemplo, na Declaração Universal dos Direitos
Humanos e na própria constituição brasileira. As cédulas monetárias vêm com a
inscrição “Deus seja louvado” apesar do conceito deste “Deus” da nota ser amplo
e abstrato.
O cristianismo também regula indivíduos em suas
subjetividades no âmbito da sexualidade, casamento e família, sendo assim, a
Igreja de um modo geral tem o poder de encaminhar e engendrar cidadãos honrados
e honestos, com valores e princípios, porém isso tudo não é regra e sim exceção,
pois não se depende de religião e igrejas para incutir essas qualidades no Eu.
A experiência de cristianização social cria um dispositivo
regulador e normalizador chamado cristonormatividade, que vai funcionar nas
mais diversas áreas e até em sujeitos que não escolheram essa doutrina para si.
A cristonormatividade é a ferramenta mais usada no fundamentalismo religioso
para definir quem é pecador em oposição ao que é santo, logo, um ideal inacessível
em vida, o que leva ao processo de êxodo religioso e não apostasia, que por sua
vez cria ateus agnósticos.
Por fim, o cristianismo deve se envolver com trabalhos
sociais promovendo a mudança da sociedade, a resolução de problemas das
relações humanas e promovendo a capacidade e aptidão das pessoas de forma a
terem o seu bem-estar, e não em políticas sociais que são ações do âmbito
governamental desenvolvidas em conjunto por meio de programas que proporcionam
a garantia de direitos e condições dignas de vida ao cidadão de forma equânime
e justa, o que não impede a discussão das mesmas a fim de garantir e afirmar as
convicções religiosas do coletivo. A separação do Estado da religião, apesar de
ser uma linha tênue no debate cristianismo e sociedade, é fundamental para
manter a seguridade do que se crê e da liberdade individual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário