sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

CRÍTICA AO LIVRO: "TARÂNTULA" DE THIERRY JONQUÉT

Capa do livro.
“Tarântula” (160pag.) é um livro do autor francês Thierry Jonquét publicado no Brasil em 2011 pela editora Record. O livro narra à história de Richard Lafargue um médico cirurgião plástico que tem sua filha Viviane Lafargue estuprada por dois jovens Alex Barny e Vicent Moreau. Após o estupro Viviane nunca mais foi à mesma e enlouqueceu, condenada a viver em um hospício ela tinha constantes crises. Richard ao ver sua única filha nessa situação começa uma perseguição, em busca de vingança, a Vicent, o único que ele tinha visto na derradeira noite do crime.

Todo o enredo se desenrola com os planos maquiavélicos de Richard para vingar sua filha. Após capturar Vicent em uma mata ele o leva para o porão de sua casa e o mantém anos em cárcere para consumar suas intenções. O plano em resumo se divide em três fases, desconstruir, transformar e escravizar.

Primeiramente o plano de Richard era basicamente prender Vicent a outro corpo, o corpo com o sexo a quem ele havia violentado. Sendo cirurgião plástico Richard trabalhava com transformações, logo, transformações exigem a redução ou a desconstrução do que antes havia. É espantoso como isso acontece, Richard tira a humanidade de Vicent ao tratá-lo como animal e um sujeito sem direitos básicos.
Thierry Jonquét.

Mantendo Vicent preso no porão, nu com fome e sede, Richard começa um processo de transformação social de identidade de gênero ao longo de quatro anos. Usando de artifícios socialmente femininos a mudança psicológica começa. Aos poucos com o progresso de seu plano Vicent ganha liberdades antes negadas como um prêmio ao acordo taciturno com Tarântula. Aliás, Vicent o apelidou assim por não saber seu nome, mas também pela simbologia da aranha a evocação do feminino e a fiação em movimentos calculados e precisos.

As correntes que prenderiam Vicent ao corpo que ele não pertencia ou a pele que ele não habitava viriam mais tarde. Richard realiza uma cirurgia de transgenização compulsória e delimita o futuro de Vicent que agora era Ève. Sem documentos Ève se vê presa a Richard para o resto da vida.

Por fim, a última e mais cruel fase do plano, se é que tem uma mais cruel, Ève mantida em cárcere ainda, porém com os direitos básicos que se tem em uma casa é escravizada sexualmente a fazer programas com clientes intermediados por seu “cafetão” Richard Lafargue.

Cartaz do filme "A Pele que
Habito".
Acontece em paralelo no livro a história Alex Barny após o estupro de Viviane. Ele e um parceiro se envolverão em um roubo grande de dinheiro. No clima do ato trocaram tiros com a policia e ele acabou sendo baleado na perna e matando um policial. Perseguido pelo dinheiro que carregava ele procurava de todas as formas se esconder.

Até que um dia ele vê na televisão o próprio Richard Lafargue falando das simplicidades de cirurgias de mudança de face. Alex então tem a brilhante ideia de mudar de rosto como forma mais prática de se esconder. Procurando o médico pelos becos da França ele o acha, porém seu plano tem uma falha, como convencer o médico a fazer a cirurgia fora de um hospital? Afim de não ser pego pela policia.

Pedro Almodóvar diretor
do filme "A Pele que Habito".
Alex descobre que o médico tem uma aparente “esposa”, a Ève. E planeja sequestrá-la e tê-la como moeda de troca pela cirurgia. Na execução de seu plano Alex é bem sucedido e convence o médico a fazer a cirurgia.

Começa então o desfecho do livro, que não cabe contar aqui para não estragar a surpresa, mas é surpreendente o rumo que as coisas tomaram. O surgimento de um sentimento paternalista entre Richard e Ève, o reencontro dos amigos e o clímax do romance acontecem nesse thriller que prende você na teia da aranha.

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