quinta-feira, 27 de novembro de 2014

CRÍTICA AO CURTA “HOJE EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO”

Cartaz do filme
Hoje Eu não Quero Voltar Sozinho é um curta brasileiro (17min.) lançado no dia 10 de abril de 2014, dirigido por Daniel Ribeiro e estrelando os jovens atores Ghilherme Lobo, Fabio Audi, Tess Amorim entre outros, tem como gênero o drama e o romance e classificação indicativa de 12 anos.

O curta é uma pequena parte de uma história realmente delicada e sutil. O enredo traz a história de Leonardo (Ghilherme Lobo) um jovem cego de nascença que enfrenta problemas na escola por isso, seu sofrimento só não é maior porque conta com a ajuda de sua melhor amiga Giovana (Tess Amorim), que o auxilia em todas as suas limitações por não enxergar.
Guilherme Lobo, Tess Amorim e Fabio Audi

No período da adolescência a identificação com outros adolescentes é muito importante para formação do caráter social do ser. Isso se expressa através de ligações amigáveis fortíssimas que muitas vezes são confundidas com amor, daí que vem o termo “amizade-colorida”.

Leonardo hostilizado pelos colegas 
Um belo dia chega à escola, mais precisamente na sala de Leonardo e Giovana um novo aluno chamado Gabriel (Fabio Audi), que também tem que suportar as brincadeiras de mau gosto dos novos colegas, por sorte, Giovana simpatiza com ele e o chama para acompanha-los e eles formam um trio.

É interessante observar essas cenas por mais sutis que sejam, mas com um grande significado por traz, sendo protagonizadas por atores tão jovens. O filme mostra um período certíssimo onde à descoberta do corpo e da sexualidade se aflora, só que o cinema atual não está acostumado a tal demonstração, e muito menos o público contra a homossexualidade.

As idas e vindas da escola para casa proporcionaram a Gabriel e Leonardo, grandes oportunidade de se conhecerem mais. Até que um dia o professor de história propõe um trabalho que deveria ser feito por duplas unissex, e os dois combinam de fazer o trabalho na casa de Leonardo. Gabriel vai até a casa de Leonardo para fazer o trabalho, como estava muito calor ele tira sua blusa de moletom e pede para ir ao banheiro escovar os dentes, que, na verdade, era uma estratégia para conseguir pistas se o amor que ele tinha por Leonardo era ou não correspondido, o que se provou quando Gabriel viu que Leonardo cheirou sua blusa que estava em cima da mesa.

No dia seguinte na escola, Leonardo confessa para Giovana que estava apaixonado por Gabriel, aí temos um momento que nos deixa uma dúvida se Giovana tinha ciúmes do Leonardo do Gabriel ou dos dois. Giovana surpresa pela notícia e pela descoberta de que Leonardo era gay, arranja uma desculpa para sair, com a promessa de passar na casa dele mais tarde, e, nesse dia, Leonardo vai sozinho para casa, pois, Gabriel tinha dentista depois da aula.

Quando Leonardo esta sozinho em casa, Gabriel chega sem se anunciar, e ele pensando que era Giovana dispara a falar sobre o assunto que discutiu com ela na escola, dizendo que estava apaixonado por Gabriel, que nesse momento ficou quieto e não disse uma palavra, apenas o beijou e saiu.

Inesperado, não somente pelo beijo, mais pelo mistério proporcionado por ele, pois só depois Leonardo descobre que quem o beijou foi Gabriel e não Giovana.

O filme é mais que recomendo para quem gosta deste tipo de história. Mas, a maior lição que podemos aprender é que se pode existir amizades que ultrapassem os limites, que amor não escolhe sexos e sim algo que complete você de dentro para fora, além das outras lições secundárias, mas não menos importantes da tolerância e do respeito à diversidade física e sexual.

O Curta

Filme completo

terça-feira, 25 de novembro de 2014

TIRANDO O CHAPÉU OU NÃO

Silas Malafaia e Raul Gil
No último sábado estava assistindo ao “Programa Raul Gil” no SBT mais especificamente o quadro “Tirando o Chapéu” que contou com a presença do líder religioso Silas Malafaia da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Expressando sua opinião sobre diversas personalidades com seu modo acalorado de discurso, chegamos ao chapéu mais polêmico, o da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais), única instituição a ser apresentada dentre os dez chapéus, a qual ele não tirou.

Na sua explicação ele diz que faz uma separação entre os homossexuais e os ativistas gays e que não discute as questões das praticas sexuais, classificado por ele como pecado, e sim de uma ideologia de gênero que, segundo ele, quer se implantar em todo o Brasil.

Segundo ele os ativistas gays querem de certa forma ensinar o “homossexualismo” nas escolas, que causaria uma mudança de paradigmas na sociedade. Ele cita também o PL 5002-2013 do deputado federal do Rio de Janeiro pelo PSOL Jean Wyllys e da deputada federal do Distrito Federal pelo PT Érika Kokay, que dispõe sobre o direito à identidade de gênero.

Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais,
Travestis e Transsexuais.
Realmente dentro da política LGBT e da cultura GLS há certa divisão entre ativistas e não ativistas, o que causa ranhuras e brechas dentro da categoria desfavorecendo a aceitação das políticas apregoadas pelo ativismo.

Políticos cuidam de políticas, ativistas cuidam de causas e pastores cuidam de ovelhas. Silas Malafaia atendendo ao último requisito deveria se ater ao lado religioso do assunto, que é justamente a pratica, coisa que ele não discute. Para discutirmos a ideologia de gênero partimos para o campo do ativismo, estando nessa esfera ele também se torna um ativista, um ativista religioso.

Ideologia de gênero é uma coisa difícil de explicar, porém vou tentar. Primeiramente precisamos nos livrar das ideias da heteronormatividade, heterossexualidade é um dos perfis sexuais dentro da sexualidade humana, existem outros dois a homossexualidade e a bissexualidade.

A maioria das pessoas não entende isso como sendo normal, pois há uma cristonormatividade, que é o pendor dos fundamentalistas, que são ativistas, a colocar todo tema social ou qualquer vivencia nas formas do cristianismo.

Transgeneridade
Orientação sexual e a identidade gênero dos indivíduos são o resultado de um constructo social e que, portanto, não existem papéis sexuais essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais.

Ideologia de Gênero.
Chegamos então ao ponto crucial, a formação da ideologia de gênero, que diz que a criança nasce sem um sexo definido. Quando a criança nasce não deve ser considerada do sexo masculino ou sexo feminino; depois ela fará esta escolha. Essa ideologia já está em vigor em países como a Suécia e a Holanda.

Se eu fosse um ativista extremista concordaria com o parágrafo acima, porém a ideia de ideologia de gênero é um tanto agressiva no que se refere a sexo biológico, creio sim que geneticamente nascemos com um sexo macho ou fêmea, com o passar do tempo adquirimos sim uma identidade de gênero que é como nos entendemos e nos portamos perante a sociedade no trato dos nossos papeis sexuais e por fim chegamos à orientação sexual que é para onde direcionamos nossa libido.

Quando a ensinar o “homossexualismo” na escola, fazendo referencia ao “Kit Gay”, primeiramente já está errado só pelo termo empregado. Ele como psicólogo deveria saber que em 1999, o Conselho Federal de Psicologia formulou a Resolução 001/99, considerando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”, que “há, na sociedade, uma inquietação em torno das práticas sexuais desviantes da norma estabelecida sócio-culturalmente” (qual seja, a heterossexualidade), e, especialmente, que “a Psicologia pode e deve contribuir com seu conhecimento para o esclarecimento sobre as questões da sexualidade, permitindo a superação de preconceitos e discriminações”. Assim, tanto no Brasil como em outros países, cientificamente, homossexualidade não é considerada doença.

Por isso, o sufixo “ismo” (terminologia referente à “doença”) foi substituído por “dade” (que remete a “modo de ser”).

"Kit Gay"
O único erro ou quase erro do “Kit Gay” (conste que votei contra) foi ao tentar distribuir esse material contendo apenas uma face da sexualidade humana, quando ali deveria conter os três perfis. Contudo, que isso sirva de alerta, quanto antes começarmos aulas de educação sexual nas escolas melhor, com isso conseguiríamos um amplo espaço para discussão com as gerações futuras de temas que hoje são um tabu, como por exemplo, o aborto e a homossexualidade.

Paradigma não é uma coisa boa, nunca foi e nunca será por isso precisamos quebrá-los. O grande desafio é quebrá-los de uma forma justa e isso só vamos conseguir com uma educação que nos ensine a pensar e não a obedecer.

Para encerrar o PL 5002-2013 está corretíssimo ao liberar os indivíduos que queiram fazer a Cirurgia de Redesignação Sexual (CRS) de avaliações psicológicas, visto que isso não é nenhuma doença ou transtorno psicológico. Todos são livres para fazer uso e transformações em seus corpos que melhor lhe aprouver sem que tenha uma pessoa que diga “isso é errado, você está doente”.



sexta-feira, 21 de novembro de 2014

CRÍTICA AO CURTA: “O BOLO”

“O Bolo” é um curta metragem (12min.) dirigido por Robert Guimarães, lançado em 2010 o filme conta com elenco de Eriberto Leão, Felipe Abib, Catarina Abdala, Fabiula Nascimento, Flavio Bauraqui e Kiko Mascarenhas. Seguindo o gênero comédia o curta narra à história da empregada Dirce (Fabiula Nascimento) uma empregada doméstica religiosa que trabalha para Cadu (Eriberto Leão).  Ao limpar a casa onde aconteceu uma festa na noite anterior, a jovem diarista se depara com as sensações provocadas pelo doce “mágico”, o bolo feito com um toque de marijuana, que despertam a sensualidade da empregada.
Da esquerda para a direita: Eriberto Leão,
Fabiula Nascimento e Robert Guimarães.

Eu ri demais, é muito engraçado, mas o filme apesar de ser uma comédia na verdade funciona muito bem como critica social no tocante a defesa das liberdades pessoais e do uso recreativo da maconha, e aqui quero abrir um parêntese, não acho que o uso recreativo da maconha seja uma coisa boa, tenho certeza. O filme foi construído sobre essa temática, contudo como nenhum bolo contém apenas um ingrediente, Robert Guimarães acrescenta temas como a homossexualidade e a religiosidade.

“As pessoas podem viver suas
liberdades individuais dentro de um conjunto”
Robert Guimarães

É interessante notar que o filme não levanta bandeiras impositivas como vemos hoje nessa guerra por direitos, todas as questões tratadas são de certa forma orgânicas e se desenrolam de forma natural e até irônica.

Uma coisa muito interessante que vi através do filme foi quanto ao uso culinário da Cannabis sativa, até então conhecia apenas os famosos Coffeeshops, estabelecimento onde a venda de maconha para consumo pessoal é tolerada pelas autoridades locais. Além da venda destes produtos, a maioria dos Coffeeshops também vendem comidas e bebidas. Existem também agora os Cannabis Foods, que são alimentos feitos com cannabis em ervas ou resina forma como ingrediente. Eles são consumidos como um meio alternativo de entrega para experimentar os efeitos de canabinóides sem fumar ou vaporizar a cannabis.

A articulação dos temas da diversidade e da tolerância religiosa é bem vista também, isso podemos ver através do mix de religiões de seus personagens desde evangélicos, umbandistas e hinduístas que convivem no filme, de forma pacífica com o diferente. A principal mensagem do filme, de certa forma subliminar, seja essa questão da mistura de ingredientes diferentes para formar o bolo que todos comem e se deliciam. A diversidade traz essa mensagem.
Kiko Mascarenhas, Eriberto Leão e Felipe Abib.

Pra terminarmos, apesar do diretor propor essa temática homossexual acredito que não se tenha aprofundado tanto nessa questão no que se refere às cenas tradicionais que vemos, por exemplo, nas novelas da Globo e nos outros filmes. Contudo, o cinema tem esse papel de representar com mais profundidade, fidelidade, riqueza e menos estereótipos essa questão. 

O curta “O Bolo” ganhou prêmios como Melhor Filme no Festival Mix Brasil 2010 – SP e no Inffinito Brazilian Film Festival na Argentina.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

ENTREVISTA: AMBIGUIDADE NOS ESTILOS MUSICAIS RELIGIOSOS.

Assisti a um vídeo nessa semana com uma música evangélica tocada em ritmo de funk, o que é singular tratando-se do caráter religioso da mesma.

E é incrível como há falta de material para a produção de um artigo aceitável no que se refere à temática do “funk evangélico”. Contudo basta uma pesquisa rápida na internet para descobrir que existe um vasto repertório desse estilo musical. Pensando nisso o blog “EVOLUÇÃO E REVOLUÇÃO” faz uma entrevista com seu editor Matheus Vilela. Transcrição abaixo.

ENTREVISTA: AMBIGUIDADE NOS ESTILOS MUSICAIS RELIGIOSOS.

Blog: Bom dia Matheus, qual sua opinião sobre o funk?

Matheus: Bom dia, o funk é um estilo musical assim como todos os outros, porém devido a transformações passadas no processo de exportação do gênero tornou-se banalizado e sinônimo de luxúria, ostentação, drogas e criminalidade. Eu realmente não tenho nada contra ao estilo nem aos adeptos do mesmo até gosto de alguns como, por exemplo, o funk “Eu só quero é ser feliz” do Rap Brasil que funciona como crítica social, por falar nisso, o funk é a voz do gueto, dos morros e da população que é oprimida nas favelas.

Blog: Qual é a problemática do funk hoje?

Matheus: Confesso que até hoje não sei [risos], mas posso apontar alguns, como por exemplo, o funk não é reconhecido como cultura pelas pessoas que se acham culturalizadas por ouvirem outros estilos musicais. Isso abre precedente para o preconceito cultural bem como a internalização do funk como subcultura adepta por cidadão a margem da sociedade, mas gostaria de ressaltar que o famoso funk ostentação, mais tocado em São Paulo, é muito aceito nos meios da classe média. Não sei dizer também se um dos problemas seja o ritmo ou a batida que instiga a malandragem e a sacanagem, talvez a letra do “funk proibidão” que incita a sensualidade de forma pejorativa. Até aqui tudo isso vemos nos filmes, novelas e músicas internacionais que as pessoas ouvem e não entendem nada, como por exemplo, a música “Bad Romance” que fala sobre prostituição e a música “Americano” que fala de casamento gay, ambas da cantora pop Lady Gaga, poderia citar também a cantora Amy Winehouse com as músicas “Back to Black” “You Know I'm no Good” e “Rehab”  que fazem referencia ao uso de drogas e álcool. Outro problema muito citado é o volume que essas músicas são tocadas em ambientes públicos, veja bem, o funk sim pode ser tocado em ambientes públicos, contudo a limites Hz e horário para se tocar.

Blog: O que precisa ser feito para alcançarmos um dia à convivência pacifica entre funk e sociedade?

Matheus: Primeiro, os funkeiros fazem parte da sociedade, então a luta seria para o reconhecimento do funk como cultura e estilo musical, é o começo, mas não é tudo, essa é a parte que cabe aos cidadãos não funkeiros, a mais difícil de mudar, pois os mesmos vão ter que despir a capa hipócrita que os cobre. Segundo, os cidadãos funkeiros têm de aprender a respeitar os limites legais para tocar músicas em público. Tudo isso é o principio da convivência pacifica respeito, reconhecimento e cidadania.

Blog: Entrando mais especificamente no tema da nossa entrevista, o que é a ambiguidade dos estilos musicais no ambiente religioso?

Matheus: Vamos lá, hoje no ambiente religioso, vou falar assim, pois não quero fazer referências à denominação nenhuma, há alguns estilos musicais considerados mundanos que são aceitos e outros não. Exemplos, o rock e o pagode ou samba. O rock teve em um momento de sua história mais especificamente na década de 80, uma fórmula tríade de se escrever as musicas geralmente focadas em sexo, bebidas e drogas, esse estilo é tocado hoje nas igrejas. O pagode ou samba que por muito tempo teve como objeto concreto a frequência de bares e cerveja, ganhou até um slogan “sou brahmeiro”, sinônimo do arquétipo do cara comum, traz consigo os valores da vida devassa e da boêmia, estilo que também é tocado nas igrejas. Contudo o funk não é muito aceito justamente por carregar as marcas que citei acima, mas se formos analisar os outros estilos também carregam marcas, mais uma vez a hipocrisia. Isso é a ambiguidade.

Blog: Você sabe dizer quais são os argumentos dos religiosos para a não aceitação do estilo musical nas igrejas?

Matheus: Não sei dizer exatamente, pois estou fora do meio ultimamente, mas acredito que seja por tudo isso que já falei a respeito do funk. Há certas incertezas também nos argumentos deles. Quando se toca um funk com uma letra infantil ou sem baixaria eles gostam e curtem até dançam se possível. Inserir isso na igreja, não, pois o funk já tem rótulo, mas em ambientes externos sim. Aí gera dubiedade, pois se o problema é a letra se resolve colocando outra. Penso agora que o problema seja o ritmo, não sei. Se formos pensar em rótulos a vida toda, nunca vamos fazer nada.

Blog: Pra encerrarmos, você concorda com a aceitação do estilo musical nas igrejas?

Matheus: Sim, com restrições [riso]. Não vejo problemas na aceitação do estilo por igrejas locais que não sigam a um vaticano, contudo acredito que isso não deva se tornar o único estilo, pois as igrejas e a religião já tem seu estilo musical majoritário, a música gospel, caracterizada por uma harmonia simples, pelo gênero folclórico e pela intensa influência do blues, um estilo mais leve voltado à adoração, principal atividade nos cultos religiosos. O funk por ter um estilo mais dançante não atenderia todo o público que frequenta uma igreja. Acredito também que caiba uma revisão dos estilos aceitos (rock, pagode ou samba, rap, hip hop, black  etc...) para por fim a essa ambiguidade.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

CRÍTICA AO FILME: "UMA PASSAGEM PARA MÁRIO"

Cartaz do filme.
Uma passagem para Mário é um longa metragem (77min.), dirigido por Eric Laurence e estreou no cinema recentemente no dia 6 desse mês. O filme faz um mix dos gêneros aventura, biografia, documentário e drama. Na verdade é uma reflexão sobre o que é a vida, o sentido das amizades e a morte.

Mário, o personagem principal da história, é um jovem que está lutando contra um câncer no fígado, a partir daí ele começa a fazer filmagens caseiras do seu cotidiano e se propõem a fazer uma viagem juntamente com seu amigo Eric Laurence o diretor do longa, de Recife (PE), atravessando a Bolívia, até chegar ao deserto do Atacama no Chile.

o desafio que a gente tem muito grande hoje
é desmistificar o tratamento

Dr. Iran

Roteiro da viagem.
A viagem estava marcada para acontecer no dia 19 de outubro passado, porém Mário morre antes de começa-lá então Eric decide realizar a viagem sozinho, filmando e registrando todas as imagens ele consegue ao final de tudo concluir esse filme juntando algumas das filmagens de Mário ao seu roteiro.

O filme revela o quanto somos pequenos nessa vida, estamos todos aqui numa passagem a pergunta que temos que nos fazer é uma passagem para onde? Apesar dos 75 anos de estimativa de vida que temos é um tempo muito curto, o que faremos nesse tempo? A viagem de Mário é um rito de passagem, uma viagem de autodescobrimento que todos nós um dia devíamos fazer para descobrir quem somos qual nosso objetivo nessa vida e para onde vamos.

Hoje eu tenho que resolver as coisas da passagem
Mário

Todos nós lutamos contra a natureza, contra o tempo, porém sempre perdemos essa luta porque estamos com uma doença terminal, a morte. Todos os nossos esforços para uma vida saudável de qualidade não será capaz de reduzir nosso fim, a única coisa que varia é o tempo em que vamos embora.

A nossa vida não da para ter um roteiro, não da para fazermos planos a longo prazo, afinal não sabemos se vamos estar vivos daqui a um minuto.

Mergulho de Mário.
A questão do mergulho no inicio do filme é muito interessante, pois a água está ligada ao nascimento e a renovação, nascemos da água dependemos dela e não há vida sem ela. Talvez a cena mais antagônica do filme seja na conclusão dele, quando Eric terminai sua viagem e entrega as memórias de seu amigo no deserto do Atacama, Mário está nadando no deserto.

A motivação maior para a feitura do filme foi à amizade, um amor compaixão que está mais associado ao suporte social e ao apoio mútuo em momentos difíceis, sendo também considerada uma forma de amor mais altruísta, sentimento hoje que muitas vezes é confundido com amor companheiro associado à amizade ou gostar intenso, constituindo a forma através da qual as relações românticas se iniciam. Vivemos em um mundo que está contra os sentimentos, o sistema pede que não sinta. Não podemos ter amizades verdadeiras.

Falando agora dos aspectos da morte, a morte não é o final é o começo. Todos estão presos a ciclos e o ciclo da vida se compõe da seguinte maneira, nascemos, crescemos, reproduzimos e morremos, essa é a realidade de quem está vivo. Quando morremos nos integramos à realidade da Terra, antes fazíamos parte do todo agora fazemos parte da Terra e tudo isso acontece quando deixamos de existir, terminamos nossa jornada assim.

Pouca importância teria em ser eterno teríamos muito que contar, porém nossa morte não seria sentida. Quando na verdade devíamos viver a cada dia tentando conquistar nossos objetivos, vivemos mais que todos, porque a cada dia nos esforçamos por viver. Outras pessoas deixam o tempo passar para saber se vivem.

As pessoas que vivem bem, que sonham que riem, que se divertem, são as pessoas que estão vivendo. Por mais que seu trabalho seja o melhor do mundo se não está com seus amigos, não se diverte você pode ganhar muitas coisas, mas onde isso leva?

Cemitério de trens.
Os bens materiais que conquistamos nessa vida e o dinheiro guardado do nosso trabalho não vão conosco para a outra vida, então porque se matar de trabalhar, economizar e não ter tempo para o que realmente nos faz feliz?

Muitas pessoas que morrem são nossos companheiros durante o resto de nossas vidas porque eles nos elegem como opção, porque são nossos companheiros espirituais e muitas vezes nós os sentimos. Muitas vezes nossas necessidades, são as necessidades de pessoas que já partiram, temos que saciá-las.

Ele tem que viajar ele tem que partir

Último registro de Mário.
A "Melhora da Morte" é quando um paciente, que está prestes a morrer, geralmente desenganado, apresenta, de uma hora para outra, uma melhora súbita em seu estado geral, justo quando ninguém mais acredita ou espera sua recuperação. Essa melhora mexe novamente com as esperanças da família. Porém, no dia seguinte àquela melhora, o paciente morre. Mário estava assim em sua última gravação, subindo as escadas ele da adeus a esse mundo e isso revela a força dessa jornada espiritual.
Eu vou sendo como posso ser
Mário

Salar do Uyuni.

Mário se foi, porém suas memórias e seu espírito permaneceram com seu amigo, que caminhava ao seu lado quando o mesmo chega ao Salar do Uyuni a 3.656 metros acima do nível do mar onde céu e terra se encontram. Esse encontro era o prelúdio do maior desafio de toda a jornada, o deserto, e antes de começa-la Eric constrói um monumento de pedra em memória de seu amigo a beira de uma rocha.

O deserto está relacionado com a busca da realidade. Esta extensão imensa e estéril, em que as paisagens aparentemente se repetem, é o local ideal para um encontro com o interior de cada ser humano. O deserto simboliza uma espécie de busca interior ou exterior, simultaneamente um local de tentação e um meio ideal para a obtenção da salvação divina da alma.

Uma cena antológica na entrada do deserto é a semelhança do som e da estética da tempestade de areia e das bolhas d’água durante o mergulho.

A jornada finalmente chega ao fim quando Laurence entrega sua viagem a Mário deixando que ele nade entre as pedras do deserto. É o fim, Laurence consegue realizar o desejo de seu amigo que viu a viagem toda, pois estava em seu coração.


Deserto do Atacama.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

CRÍTICA AO ESTATUTO DA FAMÍLIA

Essa semana estava vendo alguns posts no facebook e me deparei com uma publicação com o link do PL do “Estatuto da Família” do deputado Anderson Ferreira PR/PE com o comentário “vamos votar na família gente”. Acredito que a pessoa que fez a publicação não leu o projeto, pois é a única condição pra se votar a favor.

Para começar gostaria de lembrar o significado da palavra família que é um grupo de pessoas que, possuindo relação de parentesco, habitam o mesmo lugar. Grupo de pessoas que possuem a mesma ancestralidade (antepassados); linhagem.  Pessoas cujas relações foram estabelecidas pelo casamento, por filiação ou pelo processo de adoção.

Estou realmente curioso para saber quais são as bases do nobre deputado Anderson Ferreira PR/PE para dizer que a família tem que ser formada apenas e tão somente por um homem e uma mulher. Se for embasado, por exemplo, na Bíblia ressalto que nem todos no estado laico do Brasil seguem os preceitos contidos nesta “literatura”, desenvolver políticas públicas baseadas nisso é empurrar goela a baixo, valores pessoais do ser individual para o ser coletivo, isso é ditadura. Se basear-se, por exemplo, na constituição quero ressaltar que a sociedade é construída por indivíduos orgânicos, ou seja, é passível de mudanças, adaptações e transformações, já a lei é inorgânica escrita em uma folha de papel inorgânico, não muda, para adaptar-se depende dos debates dos políticos e para transformar-se demora muito tempo.

Nesse processo as minorias são atropeladas por preceitos sociais que a muito tempo mudaram, mas não tiveram amparo mútuo da lei, justamente pela lentidão no processo de mudança de veículos inorgânicos.

Confesso que li o projeto de lei, assim como leio vários outros, mas senti uma pontinha de preconceito e segregação em seus dizeres. Dizer que os direitos como saúde, alimentação, educação, cultura, esporte, lazer, trabalho, cidadania, e pra piorar a convivência comunitária, serão assegurados apenas as “entidades familiares” que se enquadrem nas prerrogativas do projeto. O que é isso? Quer dizer que as outras formas de família serão privadas dos direitos básicos acima citados, pensei que a lei fosse igual para todos.

A parte que mais me da arrepios é a negação da convivência comunitária, o que vão querer fazer? Prisões especiais para famílias “anormais” e criar uma Gestapo Brasileia pra perseguir e prender as mesmas, o nazismo já acabou assim como a inquisição.

O mundo é diverso, as pessoas são diferentes, querer negar isso não significa que elas não existam. Promover a convivência pacifica entre indivíduos que tem a mesma visão é fácil. Querer imputar isso nas crianças com sua política de “Educação para família” chega a ser um crime, querer dizer aos pequenos como famílias devem ser formadas é o fim da picada, e se nas famílias deles não tiver um pai apenas a mãe e vise-versa e se forem criados pelos avós, os direitos também vão ser negados?  Creio que não levaram em conta o significado de sociedade, que é a união de indivíduos diferentes e independentes que lutam em favor do bem coletivo.

Mais do que isso, o projeto é uma crítica velada ao comportamento homossexual, uma tentativa de autoafirmação da heterossexualidade.

Infelizmente se esse projeto for aprovado tenho que dar os parabéns ao deputado, pois acaba de ser inaugurar a escola do preconceito e da intolerância com o diverso.

Estremeço-me mais uma vez ao ler o parágrafo I do artigo 15, o que quer dizer com atribuições dos conselhos da família mais especificamente em relatar fatos que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da família? Promoção de uma guerra civil legal com a criação conselhos inquisitivos. Eu não quero viver num país assim.

Vivemos numa democracia precisamos de opiniões e visões diferentes e para isso precisamos de pessoas diferentes. O que estão fazendo ou tentando fazer é um massacre com amparo legal, acho que já vimos esse filme. Se você não apoia famílias assim, não tenha uma assim, mas deixem as outras livres para escolherem quais quiserem e que possam ter os mesmos direitos.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

OBSCURANTISMO II

Bom Dia‬! Continuando o artigo que comecei a escrever no sábado sobre o obscurantismo, quero falar hoje sobre as desvantagens e efeitos adversos.
O obscurantismo pode ser comparado a uma relação interespecífica desarmônica entre a instituição (+) e o individuo (-) chamada de amensalismo ou antibiose que consiste em, a instituições prega uma ideia que inibe o desenvolvimento do individuo.
Quando você vive dentro de uma “matrix” onde suas vontades seus desejos e suas ideias são controlados ou regidos por um estatuto, o seu direito de livre pensamento é inibido, como consequência a riqueza democrática das diferentes opiniões é desvalorizada impedindo assim resoluções criativas e ideias novas. Tudo isso engendra indivíduos dependentes, que para formar sua opinião levam em conta preceitos da “matrix”, que por sua vez são preceitos que atropelam as minorias.
O engessamento dos ideais cria também cidadãos acéfalos e despreparados para as questões que não são apregoadas dentro da “matrix”. É engraçado que uma vez li uma frase não sei de quem era, mas dizia assim “A religião com o dogma que mais se aproxima da verdade, é a que possui o maior número de adeptos ignorantes” não por ser realmente a verdade, mas, porque seus adeptos assim creem e querem impor isso a todos na sociedade por meio de políticas públicas. Parece que nessa história toda as vantagens são apenas da “matrix” que tem em suas mãos o controle, contudo consigo ainda enxergar uma vantagem para os “alienados” John Lennon disse uma vez “A ignorância é uma espécie de bênção. Se você não sabe, não existe dor”.
Uma vez estava assistindo uma entrevista com o antropólogo Pedro Bertolino em que ele falava sobre sexualidade, que ainda é um tabu um fantasma na sociedade mesmo com tanto acesso a informação que temos hoje, ele dizia que o fato de você não falar de sexualidade e a iniciação da vida sexual depois do casamento entregava no colo dos cônjuges a dura realidade de encararem uma coisa sozinhos que eles nunca conheceram. Isso é um dos controles da “matrix”.
Mas ao tomar a pílula vermelha “conhecerá a verdade que está por detrás do mundo que julga ser real”. A rebelião contra o obscurantismo pode ser direta, com discussões, violência, guerra e morte, ou indireta com protestos inteligentes, discursos, debates, às vezes criação de marcas revolucionárias e autodestruição.
Para concluir, há pessoas que vão viver até o fim dentro da “matrix”, esse não é o problema, o problema é querer torná-la verdade única e absoluta de todas as coisas e aplicar a tudo e a todos como se todos tivessem a mesma visão ou se a convivência dos valores não pudesse ser pacífica.
A “matrix” usa de um modelo político teocêntrico, monárquico absolutista e ditador zelando pouco pelos direitos humanos e usando todos os meios necessários para silenciar os adversários. E as pessoas apoiam. Fazer o que.