sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

CRÍTICA AO LIVRO: "TARÂNTULA" DE THIERRY JONQUÉT

Capa do livro.
“Tarântula” (160pag.) é um livro do autor francês Thierry Jonquét publicado no Brasil em 2011 pela editora Record. O livro narra à história de Richard Lafargue um médico cirurgião plástico que tem sua filha Viviane Lafargue estuprada por dois jovens Alex Barny e Vicent Moreau. Após o estupro Viviane nunca mais foi à mesma e enlouqueceu, condenada a viver em um hospício ela tinha constantes crises. Richard ao ver sua única filha nessa situação começa uma perseguição, em busca de vingança, a Vicent, o único que ele tinha visto na derradeira noite do crime.

Todo o enredo se desenrola com os planos maquiavélicos de Richard para vingar sua filha. Após capturar Vicent em uma mata ele o leva para o porão de sua casa e o mantém anos em cárcere para consumar suas intenções. O plano em resumo se divide em três fases, desconstruir, transformar e escravizar.

Primeiramente o plano de Richard era basicamente prender Vicent a outro corpo, o corpo com o sexo a quem ele havia violentado. Sendo cirurgião plástico Richard trabalhava com transformações, logo, transformações exigem a redução ou a desconstrução do que antes havia. É espantoso como isso acontece, Richard tira a humanidade de Vicent ao tratá-lo como animal e um sujeito sem direitos básicos.
Thierry Jonquét.

Mantendo Vicent preso no porão, nu com fome e sede, Richard começa um processo de transformação social de identidade de gênero ao longo de quatro anos. Usando de artifícios socialmente femininos a mudança psicológica começa. Aos poucos com o progresso de seu plano Vicent ganha liberdades antes negadas como um prêmio ao acordo taciturno com Tarântula. Aliás, Vicent o apelidou assim por não saber seu nome, mas também pela simbologia da aranha a evocação do feminino e a fiação em movimentos calculados e precisos.

As correntes que prenderiam Vicent ao corpo que ele não pertencia ou a pele que ele não habitava viriam mais tarde. Richard realiza uma cirurgia de transgenização compulsória e delimita o futuro de Vicent que agora era Ève. Sem documentos Ève se vê presa a Richard para o resto da vida.

Por fim, a última e mais cruel fase do plano, se é que tem uma mais cruel, Ève mantida em cárcere ainda, porém com os direitos básicos que se tem em uma casa é escravizada sexualmente a fazer programas com clientes intermediados por seu “cafetão” Richard Lafargue.

Cartaz do filme "A Pele que
Habito".
Acontece em paralelo no livro a história Alex Barny após o estupro de Viviane. Ele e um parceiro se envolverão em um roubo grande de dinheiro. No clima do ato trocaram tiros com a policia e ele acabou sendo baleado na perna e matando um policial. Perseguido pelo dinheiro que carregava ele procurava de todas as formas se esconder.

Até que um dia ele vê na televisão o próprio Richard Lafargue falando das simplicidades de cirurgias de mudança de face. Alex então tem a brilhante ideia de mudar de rosto como forma mais prática de se esconder. Procurando o médico pelos becos da França ele o acha, porém seu plano tem uma falha, como convencer o médico a fazer a cirurgia fora de um hospital? Afim de não ser pego pela policia.

Pedro Almodóvar diretor
do filme "A Pele que Habito".
Alex descobre que o médico tem uma aparente “esposa”, a Ève. E planeja sequestrá-la e tê-la como moeda de troca pela cirurgia. Na execução de seu plano Alex é bem sucedido e convence o médico a fazer a cirurgia.

Começa então o desfecho do livro, que não cabe contar aqui para não estragar a surpresa, mas é surpreendente o rumo que as coisas tomaram. O surgimento de um sentimento paternalista entre Richard e Ève, o reencontro dos amigos e o clímax do romance acontecem nesse thriller que prende você na teia da aranha.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CRÍTICA AO CURTA: "MUNDO AO CONTRÁRIO - HETEROFOBIA"

O curta “Mundo ao Contrario – Heterofobia” (19min.) lançado em 2013 e dirigido por K. Rocco Shields é um documentário que mostra um mundo onde o “normal” é ser homossexual. A personagem principal Ashley (Lexi DiBenedetto) nasce e constrói a sua sexualidade com base heterossexual e todo o desenrolar do enredo mostra a luta ideológica contra o preconceito na aceitação de sua sexualidade.

Primeiramente quero deixar claro que eu não concordo com um mundo que tenha padrões sexuais, sejam eles homo ou hetero, ou qualquer outro padrão que marginalize o Ser. Não gostaria de viver numa sociedade homonormativa e não gosto de viver numa sociedade heteronormativa. A sociedade sem padrões de comportamento, não sem leis, não cria seres subalternos e sem direitos e não hierarquiza aspectos do Ser. Por fim uma sociedade justa e igualitária que visa o bem estar social por meio de micro políticas.

Ao fundo "Deus odeia heteros.
Não se pode virar o tabuleiro e continuar jogando da mesma forma. Há de se respeitar o Ser no seu estado original sem as configurações que a sociedade e a cultura imprimem a ele. E também há uma grande diferença entre maioria e normal e minoria e anormal. Sempre vai haver o mais e o menos, a diferença é como eles são tratados.

O vídeo sim, já começa num estado agressivo de expressão de opinião, caractere adquirido pela educação compartilhada da cultura hetero conservadora e fundamentalista, e também faz referencias religiosas alterando seu o sentido original, ressalto que não concordo com isso também, mas isso é adquirido, mais uma vez, da cultura hetero conservadora e fundamentalista que manipula a cultura de massa, notícias e até vídeos. Um dos grandes estranhamentos causados em mim ao assistir ao vídeo é a adesão de comportamentos adultos a crianças.

Ashley hostilizada por sua sexualidade.
Para escrever esse artigo já assisti três vezes ao vídeo e todas elas senti repulsa aos crimes e discursos de ódio cometido pela hegemonia sexual do romance, não concordo com crimes de ódio promovidos pela heterofobia e muito menos pela homofobia. Heterofobia ainda me soa estranho pelo ínfimo e talvez inexistente crimes por essa motivação.

Os problemas de Ashley começam na escola com o bullying perpetrado pelos colegas, ela ganha uma marca estigmatizada de “criadora” que é como são chamadas no filme as pessoas que tem relações heterossexuais. Obviamente a sobrevivência da humanidade em um mundo homossexual é uma utopia, visto as relações não reprodutivas. Precisa-se dos heterossexuais para se criar homossexuais e precisa-se dos homossexuais para se definir os heterossexuais, isso é a dualidade que constrói a sociedade e mantém as relações de poder.

Bullying virtual.
E aqui vale lembrar, eu já falei sobre em outras ocasiões, da importância da educação sexual nas escolas para os currículos do Ensino Fundamental e Médio como ferramenta a inclusão de minorias no âmbito escolar e incentivo a grupos de apoio e estudos de temáticas LGBT nas escolas. Falar aos jovens sobre a necessidade de respeitar as diferenças e de refletir sobre como quem não tem o "comportamento padrão" imposto pela sociedade sofre muito. Falar dos diferentes tipos de orientação sexual no ambiente escolar faz parte disso, embora não seja fácil.

Sem o apoio familiar, Ashley passa por um período de negação onde parece impossível ser daquele jeito, passando pela raiva questionando a si mesma o “porque ela?”, logo depois vem o período de negociação onde começa a formular hipóteses para sua aceitação. Não obtendo resultados positivos a sua empreitada ela mergulha no último estagio dessa negação, a depressão. Ela começa a tomar consciência de que seu comportamento jamais será aceito. Não há como escapar. Há um espaço vazio em seu coração. E com isso vão todos os sonhos e projetos.

Desespero de Ashley após surra dos colegas.
É de chorar a traição de seu afeto. Mas as piores violências sofridas são as violências ideológicas que criam etiquetas as pessoas. Com tudo isso, Ashley chega às vias de fato e destina-se ao fim mais comum as pessoas que são diferentes e decidem não lutar pela aceitação, o suicídio. O vídeo não mostra claramente, mas deixa subentendido.

Todas essas situações aconteceram inversamente com os heterossexuais, porém essas experiências são horríveis não importando a quem sejam perpetradas. O vídeo é uma critica verossímil a situações cotidianas vividas por pessoas LGBT nas escolas, reflexo da falta de políticas de inclusão social e da irresponsabilidade do corpo docente e discente com uma educação justa.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

ENTREVISTA: DESAFIOS 2015 PARA O BLOG

Blog: Bom dia! Nesse ano quais serão as estratégias usadas para expansão dos ideais do blog?

Matheus: Bom dia! Primeiramente quero explicar o que significam os ideais EVOLUÇÃO e REVOLUÇÃO. A evolução vem por meio das necessidades adaptativas que o ser é obrigado a passar caso queira continuar vivo. A revolução seria todas as evoluções subsequentes que criam variedades do mesmo individuo a fins da readaptação pensando sempre na mudança de pensamento, ideias e comportamentos. O blog vai ganhar uma visão mais política dos assuntos tratados, principalmente no que se refere às políticas minoritárias, e alguns marcadores serão excluídos. Discussões novas serão abertas como a pena de morte e a eutanásia, que entram nas políticas minoritárias. O empreendimento de análises fílmicas, obras literárias e artigos científicos serão fortemente usados na disseminação desses ideais. E também quero agradecer a audiência que o blog recebe principalmente no Brasil e nos Estados Unidos.

Blog: Qual a real importância do blog para o pregão dessas novas ideias?

Matheus: Todos nós ocupamos uma posição política nas nossas atividades cotidianas, e eu mais do que nunca tento colocar essas posições para funcionar. A partir dessa posição precisamos de um lugar de fala e esse é um dos meus lugares de fala, o blog. As pessoas hoje em dia não dispõem ou não querem ter um tempo de qualidade com um livro na mão, para essas pessoas a velocidade com que se lê alguma coisa é o que importa. Por vezes essa leitura apresenta níveis muito baixos de interpretação, e o blog se propõem a isso trazer numa linguagem simples, assim espero [risos], e traduzida de tudo que se lê, fala, ou escuta por aí nas mídias, nas ruas e nos discursos de ódio disfarçados de liberdade de expressão. A internet proporciona essa velocidade que as pessoas querem, por isso, considero os espaços cibernéticos uma importante ferramenta a quem queira propagar ideias a outrem.

Blog: Um dos marcadores mais vistos do blog é o de “Entretenimento”, você pretende colocar algo novo além dos curtas e filmes?

Matheus: Sim, sim. Com certeza. A análise de livros e de séries será apensada ao marcador e talvez análise de músicas, mas isso é mais para o meio do ano. Quem não gosta de ficar em casa e assistir a um bom filme? Porém esses filmes são cheio de arquétipos e de ideologias que passam despercebidos aos olhos de quem presta atenção apenas no romance. O blog interpretará essas ideologias e apresentará ao leitor, mas pensando no estímulo a interpretação independente do espectador, pois não apoiamos manipulações de cérebros ao nosso bel prazer e estamos abertos a encorajar nossos leitores a leitura de opiniões diferentes da nossa. A adoção do cinema alternativo e independente será adotada como outra opção de entretenimento, o cinema brasileiro e o cinema LGBT serão protagonistas nessa tarefa.

Blog: Suas opiniões são fortes e muitas vezes vão contra o senso comum, você é muito criticado pelo que escreve?

Matheus: Não existe opinião forte ou fraca, o que existe são opiniões diferentes, que são visões destoantes da mesma história. Não me fale em senso comum que eu odeio isso, chega de senso comum, REVOLUÇÃO. Olha criticado todo mundo é mesmo quando faz o bem ou o mal sempre haverá uma crítica. A forma como faz a crítica é o que muda. A palavra tem o poder de construir e desconstruir, palavras bem colocadas constrói e mal colocadas destroem. Tem pessoas que não se dão bem com a critica negativa, eu gosto das criticas elas mostram que estamos sendo vistos e que as pessoas estão começando a pensar com seus cérebros, é um ótimo sinal. Já me perguntaram qual era a utilidade de escrever sobre temas polêmicos, ora, toda, temas polêmicos são os que mais geram famigeração nas bancadas conservadoras e fundamentalistas que é justamente a minha oposição direta. Tenho que escrever, tenho que falar e tenho que combater dentro dos meus lugares de fala.

Blog: É verdade que você pretende inserir videoconferências as tags do blog?

Matheus: Um dia quem sabe [risos]. É mais difícil fazer um vídeo, tanto pela falta de material como de pessoal. Mas sim adoraria ver minha cara no clip [risos]. O vídeo abre portas para novos públicos o que aumentaria a audiência do blog, é uma coisa de se pensar num futuro próximo.

Blog: Além do blog, quais são suas atividades?

Matheus: Pesquiso bastante, leio muito, não somente enunciados científicos e políticos das causas que luto, mas também romances, assisto filmes, curtas e entrevistas e estou atento às novas teorias da sexualidade. Tudo isso me permite escrever o que escrevo e são minhas bases na construção do blog. Tenho também meu trabalho como Aux. Adm. durante a semana, que graças a Deus não atrapalha minhas atividades com o blog. Nos finais de semana faço de tudo pra não ficar em casa [risos], saio com os amigos, vou ao shopping, cinema etc... Resumidamente é isso que eu faço.

Blog: Uma última pergunta. Quais são as expectativas e visões do futuro para o público do blog compatível a sua opinião e também para os nãos compatíveis?

Matheus: Primeiramente temos que atingir o primeiro passo das mudanças para algumas minorias, uma coisa que cara a elas PRIDE (orgulho). Fazer com que as minorias cheguem juntas a esse degrau. Quando você tem orgulho do que você é ou do que faz nada nem ninguém conseguirá fazer de você o contrário, essa é a parte mais difícil no processo de sujeitos de direito, imputar o orgulho. Isso se deve ao fato que pessoas diferentes (minorias) são criadas no mesmo ambiente, cultura e instituições ligadas à cultura que o hegemônico é criado, isso engendra seres estigmatizados e estrangeiros a própria sociedade. Logo depois vem o input de sensação de pertencimento, mas isso já é o segundo passo. Para o público não compatível em nenhum momento pretendo fazê-los mudar de posição, mas sim apresentar a outra face da história. Que existe. E a negação destas e dos direitos não às eximem da existência e da condição humana.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

PL 4211

Forma usual de apresentação do
serviço.
A sociedade sempre mantendo um moralismo superficial dos “bons costumes” tende a causar injustiças e negação de direitos às minorias não normativas. Muito já foi falado de minorias sociais, porém hoje quero falar de uma minoria profissional, a prostituição.

Prostituição consiste na prestação de um serviço sexual em troca de dinheiro. Prática historicamente relacionada às mulheres, hoje ganha espaço no campo masculino com os famosos michês.

Socialmente a prostituição não configura um crime nem quando praticada individualmente ou coletivamente. A prostituição é reprovada no imaginário social devido à possível disseminação de DSTs e pelo impacto negativo nas estruturas familiares. O preconceito gerado também parte do principio da cultura de massa apensar a prostituição a exploração sexual.

Prostituição como modo de
sobrevivência.
Atualmente nas regiões mais pobres do mundo miséria e prostituição são praticamente sinônimos, a partir daí, conseguimos entender a profissão como um estilo de vida e um meio de sobrevivência frente à sociedade normativa que nunca deixou de fomentar veladamente aquilo que ela condena brutalmente.

Há vários tipos de prostituição, mas uma das que mais me chamou a atenção durante minhas pesquisas foi à prostituição corporativa. A prostituição corporativa é uma troca de favores sexuais por um melhor nível social hierárquico ou na concretização de negócios. Ainda hoje, entre empresas de segunda classe é relativamente comum mulheres usarem o erotismo e a insinuação vulgar como moeda de troca para fechamento de contratos, pagamento e recebimento de propinas e informações sigilosas.

A atividade de prostituição no Brasil em si não é considerada ilegal, não incorrendo em penas nem aos clientes, nem às pessoas que se prostituem. Entretanto, o fomento à exploração sexual e a contratação de pessoas para atuarem como escravos sexuais são considerados crimes, puníveis com prisão.

Gabriela Leite
Para regulamentar essa situação surgiu em 2012 e aguardando aprovação o PL Gabriela Leite que regulamenta a atividade dos profissionais do sexo. De autoria do deputado federal do Rio de Janeiro Jean Wyllys PSOL o projeto visa à quebra de paradigmas sociais com o discernimento do que é exploração sexual e prostituição. Mais do que isso o projeto proporciona a efetivação dos sujeitos de direito e do orgulho profissional por meio da identificação com o coletivo.

O enfrentamento de problemas
sociais na esfera criminal não
gera bons resultados.
Impor a marginalização do segmento da sociedade que lida com o comércio do sexo é permitir que a exploração sexual aconteça, pois atualmente não há distinção entre a prostituição e a exploração sexual, sendo ambos marginalizados e não fiscalizados pelas autoridades competentes. Enfrentar esse mal significa regulamentar a prática de prostituição e tipificar a exploração sexual para que esta sim seja punida e prevenida.

Está mais do que na hora de aprendermos que a criminalização do que os setores conservacionistas e fundamentalistas não aceitam não é o melhor caminho para resolver os problemas sociais desse país. Colocar sujeitos à margem não significa que eles deixam de existir e que não mereçam direitos como pessoa humana.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PLC 122

O Senado Federal ontem (17) através da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ) debateram sobre a reforma do Código Penal, e dentre as inúmeras prerrogativas estava lá o PLC 122 que visa coibir a discriminação de gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. E como sempre a bancada conservadora articulou uma manobra política para desapensar o complemento com a desculpa de que o mesmo não compete ao Código Penal.

Então quer dizer que cometer uma violência de qualquer nível contra uma pessoa pela sua identidade de gênero ou sua orientação sexual não é crime? Aonde isso. Aceitando essa disparidade os órgãos responsáveis pelo poder legislativo do Brasil tornam-se cúmplices das violências que se abatem sobre as pessoas LGBTs. Enquanto eles legislam intactos e confortáveis dentro das paredes do senado, jovens como Alexandre Ivo morrem espancados até a morte por sua orientação sexual.


A guerra ideológica não leva em consideração o sangue que escorre pelas ruas. O discurso de ódio cúmplice dos crimes homofóbicos são os mesmos que mantém o fascista deputado federal Jair Bolsonaro do PP do Rio de Janeiro. É preciso uma intervenção compulsório do poder executivo nesse assunto para que a proteção do direito a vida humana seja preservado.

O preconceito é cognitivo e gerado por uma desconfiança do imaginário social coletivo. Ninguém opta em ser uma pessoa LGBT em um horizonte de discriminação, porém todos os anos lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais são mortos devido sua sexualidade destoante do hegemônico.

Entre as populações consideradas vulneráveis, a população LGBT é a única que não tem legislação específica de proteção contra a discriminação e a violência, diferente das mulheres, dos negros e assim por diante.

Respeitar os Direitos Humanos é fundamental, entender que a cor da pele, a crença, a condição social e também a sexualidade não abrem precedente para negação dos direitos básicos do ser humano. A democracia é mais do que a regra da maioria. Ela exige defesa das minorias vulneráveis diante de maiorias hostis. Os governos têm o dever de desafiar o preconceito, não ceder a ele. Quando empreendermos esses princípios estaremos dando um importante passo para a construção da Cultura da Paz.

A Constituição Federal do Brasil estabelece que não haja discriminação de qualquer natureza e que todos são iguais perante a lei. Também assegura a dignidade humana e a segurança jurídica. Contudo, pelo quadro de discriminação e violência exposto acima, está evidente que os direitos constitucionais da população LGBT estão sendo feridos e que é preciso protegê-los afirmativamente.

Por fim, apoio que o projeto do novo Código Penal que está em tramitação no Congresso Nacional também garanta a criminalização da homofobia, para pôr fim à vergonhosa situação da impunidade da violência e discriminação contra as pessoas LGBTs no Brasil.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

DESUMANIDADE

Nessa semana estava assistindo ao Jornal do SBT e vi uma reportagem sobre as condições do sistema prisional brasileiro que como sempre anda superlotado. Essa superlotação vem acompanhada de péssimas condições de saúde e higiene nos presídios. Mediante essa situação um caso em particular chamou a atenção do Supremo Tribunal Federal (STF), o detento Anderson Nunes da Silva entrou na justiça contra o Estado do Mato Grosso do Sul (MS) denunciando as condições degradantes e sub-humanas do presídio de Corumbá.

Presídio de Corumbá
Anderson N. da Silva condenado a 20 anos de prisão por latrocínio (roubo seguido de morte) cumpre pena em condições não só juridicamente ilegítimas, mas humanamente ultrajantes. A denúncia levou ao ministro Teori Zavaski propor o pagamento de uma indenização de R$2.000,00 por danos morais.

Manifestações contra decisões obviamente corretas me espantam. As pessoas que cometem crimes e hoje estão presas pagando com a privação da liberdade não perdem a condição humana de ser por mais hediondo crime cometido. O preso sim tem o direito de procurar um defensor público para representa-lo perante tribunal para pleitear sobre suas reivindicações.

Presídio de Corumbá
Ambientes que desrespeitam os mínimos Direitos Humanos nunca vão engendrar seres humanos, os presídios sob esse regime não tem função de correção e sim de punição, contudo qual o objetivo de castigar por castigar? Tem que haver dentro dos presídios programas de ressocialização por meio de políticas humanísticas, do contrário, as prisões brasileiras continuaram funcionando como escolas do aprimoramento criminal.

Tenho certeza que as pessoas contra a decisão do pagamento da indenização não a entendem como uma critica da margem a um desrespeito e uma violência social cometida inconscientemente pelos cidadãos livres e promovida pelo governo e principalmente pela mídia. Talvez as pessoas não se lembrem do caso Pizzolato condenado no processo do mensalão que fugiu para a Itália e teve o pedido de extradição negado pela justiça italiana baseada justamente no risco do preso receber tratamento degradante no sistema prisional brasileiro.

Governo e instituições precisam começar uma mudança cultural dentro das escolas na promoção da cultura da paz, pois sempre digo que a prevenção é mais eficaz e barata do que a repressão.

A administração penitenciária precisa desenvolver estratégias para desafogar o sistema, como por exemplo, fortalecer a defensoria pública, mutirões para libertar réus que já cumpriram a pena e continuam presos e direito ao trabalho externo.

Efetivar o direito ao trabalho e estudo dos apenados como uma forma de preparar a inclusão social. Colônias para trabalho. Manter a atual maioridade penal em 18 anos, como estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente, acreditando no investimento em educação, recuperação e em planejamento familiar. Apoio ao acolhimento no serviço público e privado de condenados por delitos leves que podem já trabalhar nos regimes abertos e semiabertos. Organizar um sistema de oportunidade de trabalho para réus que já tenham cumprido pena para prevenir a reincidência.

Enquanto isso os hipócritas continuam reclamando do transporte público apertado que eles são obrigados a tomar, mas os presos podem ficar na clausura enlatados como sardinhas. Justo?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

RESUMO DO TRABALHO DE FICHAMENTO DE ARTIGO. A TEORIA QUEER E A SOCIOLOGIA: O DESAFIO DE UMA ANALÍTICA DA NORMALIZAÇÃO

Transgeneridade
A ordem social contemporânea é construída através de mecanismos de poder e controle de minorias. Esses mecanismos baseiam-se em ideologias fascistas que segregam seres humanos por etnia, crença, sexo, condição social e etc. Muitas vezes ao longo da história essas ideologias foram usadas, e infelizmente continuam sendo usadas, para justificar genocídios. O Apartheid e o nazismo são bons exemplos de mecanismos de controle social por meio respectivamente da etnia e da crença, e todos nós sabemos o resultado da aplicação dessas ideologias.

Na tentativa de mensurar como a sexualidade hoje constitui a ordem social, surge a Teoria QUEER. A Teoria QUEER estuda como o convívio social e as experiências culturais do individuo formam a sua identidade de gênero e sua orientação sexual, assim sendo, não nascemos com papeis de gênero preestabelecidos, mas desenvolvemos diferentes formas de desempenha-los.


Além disso, QUEER procura ressaltar como a heteronormatividade e o heterossexismo , que são os principais mecanismos de controle das minorias sexuais, criam um ambiente hostil de preconceito para com o Outro. De fato a heterossexualidade não existiria sem a homossexualidade, pois a sociedade é formada justamente por um binarismo hetero/homo, de modo que, para definirmos um ser heterossexual precisamos entender o que é o opositor dele, o ser homossexual.

Teoria QUEER também propõe a mudança do objeto de estudo da minoria para o hegemônico (hetero) partindo do principio de que a heteronormatividade também engendra seres homossexuais. Há dispositivos criados em QUEER que englobam literaturas, enunciados científicos, instituições e proposições morais para o estudo midiático sobre sexualidade e sociedade.

O trabalho, já em dois meses de pesquisa, procura reunir artigos dos principais teóricos QUEER na estrutura de um fichamento para uma melhor compreensão do público por notas explicativas inseridas nos principais pontos. Seguindo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) o trabalho será apresentado à comunidade LGBT, como parte das exigências das pesquisas ativistas sobre ciência gay e homocultura.

Conseguimos por meio do trabalho, ver que a normalização heterossexual que cria seres vistos como desviantes, perversos e até mesmo doentes podem ser encarados como diferentes., o que é marginalizado não deixa de ser importante, mas necessário, porém mantido como inferior e que Teoria QUEER não é só ciência é também política, pois nos permite contestar os processos que utilizam do diferente para justificar a opressão.

Por fim, concluímos que as tentativas da sociologia, da antropologia, da sexologia e da psiquiatria em explicar as sexualidades falham no que tange a racialização do sexo e a sexualização da raça. A teoria QUEER expande o âmbito da análise para abranger todos os tipos de atividades sexuais e de identidades classificados como "normativos" ou "desviantes".

De uma forma geral, é possível afirmar que a teoria QUEER busca ir além das teorias baseadas na oposição homens e mulheres e também aprofundar os estudos sobre minorias sexuais (LGBT) dando maior atenção aos processos sociais amplos e relacionados que sexualizam a sociedade como um todo de forma a heterossexualizar e/ou homossexualizar instituições, discursos e direitos.